O vídeo “Why i hate religion, but love Jesus”(Porque eu odeio a religião, mas amo a Jesus) já foi assistido mais de 17 milhões de vezes, e continua causando repercussão no meio cristão.
No vídeo, o jovem Jefferson Bethke critica atos, práticas e tradições que segundo ele, são “religiosidade”, ou seja, dogmas que afastam as pessoas do ideal cristão e as aproximam de hábitos e costumes estranhos ao evangelho. Jefferson é membro da Mars Hill Church, igreja pastoreada por Mark Driscoll, conhecido por suas mensagens contra o que chama de dogmas e hipocrisias cometidos por muitos dentro da religião cristã.
O blogueiro Bernardo Cho postou um artigo que critica o vídeo e o movimento que ele rotula de “anti-religião”. Para ele, há erros na terminologia usada para definir os ideais propagados pelo vídeo: “Para começar, esses movimentos anti-religião usam péssima terminologia. Religião, nas palavras de Tony Jones (ecoando Friedrich Schleiermacher) por exemplo, é a expressão da experiência humana com o transcendente; não é algo necessariamente bom, nem ruim, é simplesmente inevitável. Só que, para a turma do Jesus não-religioso, “religião” é um termo que encapsula todas as suas experiências negativas em relação a fé. Em outras palavras, os não-religiosos chamam de religião tudo aquilo que os marcou negativamente ao longo da vida, incluindo aquilo que não correspondeu ao apetite de seu consumismo religioso”.
Bernardo Cho afirma que Jesus não veio abolir a religião e ressalta que apesar de usar palavras com significado bonito, para ele as frases são vazias de sentido. “Colocar Jesus contra religião é uma dicotomia falsa. Aquela frase ‘religião é o homem em busca de Deus, e cristianismo é Deus em busca do homem’ pode até soar bonito, mas é superficial. O cristianismo é a religião que tem como matriz o evangelho de Jesus, a mensagem do Deus que veio ao mundo na pessoa de Seu Messias. Não obstante, o cristianismo, tendo emergido da religião veterotestamentária através da proclamação escatológica dos apóstolos, é religião sim”.
Cho pondera que em cada época, surgem novos desafios para a fé e a religião, mas que é necessário manter raízes: “O anti-religiosismo de hoje é raso do ponto de vista exegético e pobre no que diz respeito à sua consciência histórica. Sobre isso, não há muito o que dizer, pois a realidade do segmento mais pop do evangelicalismo contemporâneo diz por si só. Só um adendo: É extremamente necessário que cada geração reformule a maneira de pensar e expressar sua fé, de acordo com os desafios de sua época. Mas, precisamos fazer isso com o mínimo de perspicácia”, sugere o blogueiro.
No artigo, ele ainda afirma que os que tem a pretensão de serem cristãos sem pertencer a nenhuma religião são arrogantes e que estes, se colocam num patamar acima dos demais: “A ironia é que, enquanto os anti-religiosos se dizem livres da maldição de serem julgados por sua aparência exterior (como costumes, vestimenta, etc.), eles mesmos julgam como “religiosos” todos aqueles que seguem qualquer tipo de tradição”.
Confira abaixo, a íntegra do artigo “A religiosidade dos não-religiosos”, de Bernardo Cho:
Estamos em meados de Janeiro, o ano acadêmico já está a todo vapor (pelo menos aqui na terra do frio), e eu realmente deveria estar fazendo outra coisa neste exato momento. Mas, resolvi aproveitar minha pausa de hoje para fazer um breve comentário sobre o video religioso (isso mesmo, religioso) intitulado “Jesus>Religion” (http://www.youtube.com/watch?v=1IAhDGYlpqY), que está muito em voga ultimamente nas redes sociais.
Eis o porque que eu acho essa ideia de um “Jesus sem religião” profundamente insatisfatória:
1- Para começar, esses movimentos anti-religião usam péssima terminologia. Religião, nas palavras de Tony Jones (ecoando Friedrich Schleiermacher) por exemplo, é a expressão da experiência humana com o transcendente; não é algo necessariamente bom, nem ruim, é simplesmente inevitável. Só que, para a turma do Jesus não-religioso, “religião” é um termo que encapsula todas as suas experiências negativas em relação a fé. Em outras palavras, os não-religiosos chamam de religião tudo aquilo que os marcou negativamente ao longo da vida, incluindo aquilo que não correspondeu ao apetite de seu consumismo religioso. Tudo bem, há pessoas que sofreram formas genuínas de abuso em instituições religiosas e, portanto, é até compreensível que alguns achem interessante demonstrar aversão ao termo. Mas, isso não justifica a má terminologia. Transferir ao termo “religião” todo tipo de conotação pejorativa é tão simplista e ilegítimo quanto dizer que a instituição da “família” é ruim pelo fato de existirem pais que abusam de seus filhos – uma sugestão que beira a burrice.
2- Colocar Jesus contra religião é uma dicotomia falsa. Aquela frase “religião é o homem em busca de Deus, e cristianismo é Deus em busca do homem” pode até soar bonito, mas é superficial. O cristianismo é a religião que tem como matriz o evangelho de Jesus, a mensagem do Deus que veio ao mundo na pessoa de Seu Messias. Não obstante, o cristianismo, tendo emergido da religião veterotestamentária através da proclamação escatológica dos apóstolos, é religião sim. Aliás, Jesus mesmo tinha uma religião – a do Sinai. E ele não veio “abolir a religião,” nem se colocar “no outro extremo do espectro.” Jesus veio, nas palavras de N. T. Wright, redefinir o povo de Deus ao redor de si mesmo. Isso significa que Jesus não está necessariamente em oposição à religião; significa que ele veio mostrar a sua finalidade. O próprio irmão de Jesus, Tiago, sugere isso: “A religião que Deus, o Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas necessidades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1:27). Além disso, se Jesus tivesse abolido a religião e suas expressões ou, como muitos gostam de dizer hoje em dia, toda forma de fé institucionalizada, como é que ele pôde estabelecer sacramentos, como o batismo e a ceia? Não nos esqueçamos também de que não existe cristianismo individual, sem comunidade. Como T. F. Torrance acertadamente definiu, “conversão é o retornar do ‘eu-individualista’ para o ‘nós-coletivo.’” Congregar é estar com outros em nome de Jesus. E uma reunião onde dois ou mais estão em nome de Jesus já é em si um ato religioso e institucional, mesmo que tal grupo não tenha um CNPJ.
3- O anti-religiosismo de hoje é raso do ponto de vista exegético e pobre no que diz respeito à sua consciência histórica. Sobre isso, não há muito o que dizer, pois a realidade do segmento mais pop do evangelicalismo contemporâneo diz por si só. Só um adendo: É extremamente necessário que cada geração reformule a maneira de pensar e expressar sua fé, de acordo com os desafios de sua época. Mas, precisamos fazer isso com o mínimo de perspicácia, não é verdade? O rapzinho meia-boca do “Jesus>Religion” em momento algum reflete um pensamento crítico sério em relação aos problemas reais dos nossos dias. Como diria Carlos Nascimento, “nós já fomos mais inteligentes.”
4- E, finalmente, dizer que “sou de Jesus, mas não sou de nenhuma religião” é, no fundo, uma afirmação arrogante; afinal, a ideia de que “Jesus>Religion” pressupõe que aqueles que “são de Jesus” estão num patamar mais elevado do que os demais indivíduos da raça humana, que (cruz credo, pobrezinho deles) confessam uma religião. Já que os “de Jesus” não têm uma religião, mas vivem o “cristianismo puro e simples” (como se existisse cristianismo sem dialética com as correntes culturais de sua época), são eles os verdadeiros iluminados. E o critério para se discernir se você é de fato um cristão verdadeiro é simples: basta você não ter compromisso nenhum com a religião ou com alguma instituição. A ironia é que, enquanto os anti-religiosos se dizem livres da maldição de serem julgados por sua aparência exterior (como costumes, vestimenta, etc.), eles mesmos julgam como “religiosos” todos aqueles que seguem qualquer tipo de tradição. Se esquecem, porém, de que Deus vê além das aparências, independente se você expressa abertamente sua religião ou não. O anti-religiosismo, portanto, tão preocupado em ser cool e diferente, não passa de mais uma expressão religiosa, igualzinha as demais.
Ser de Jesus, meus caros, é viver a religião em sua finalidade mais plena.
Bom, agora deixa eu voltar ao tabalho. Afinal, a Luiza já voltou do Canadá, mas eu não.
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