No dia 7 de setembro, a população maldívia — quase totalmente muçulmana — foi às urnas para a eleição presidencial disputada entre dois partidos. É apenas a segunda eleição da história do país. A despeito do resultado, espera-se que ele cause pouco impacto na tolerância religiosa.
O presidente em exercício, Mohamed Waheen Hassan, esteve no poder por apenas 18 anos, uma vez que seu oponente, Mohamed Nasheed teve de abdicar do cargo em fevereiro de 2012. Hassan era vice-presidente de Nasheed, que afirma ter sido destituído num golpe. Hassan nega, dizendo que Nasheed optou por sair.
Independente das circunstâncias exatas, Nasheed deixou o cargo após seu oponente acusá-lo de tentar “abolir” o islamismo no país. O Wall Street Journal relatou que “seus adversários políticos fomentaram a oposição de muçulmanos conservadores, afirmando que o governo de Nasheed tentava acabar com sua religião”.
Os outros dois candidatos das eleições foram o meio-irmão do ex-presidente Maumoon Abdul Gayoom, Abdulla Yameen, e o famoso empresário Gasim Ibrahim. Yameen quer implementar pena de morte e sentenças de prisão mais severas, ao passo que Ibrahim promete fortalecer o islamismo nas Maldivas, incluindo a fundação de uma universidade islâmica e fazendo do estudo do Alcorão uma matéria obrigatória nas escolas.
O islamismo está tão mesclado à política nas Maldivas que este é o único país do mundo onde é ilegal ser outra coisa além de muçulmano. Aquele que se converte a outra religião pode ter sua cidadania revogada. Assim, não existem registros oficiais da existência de outra religião no país, embora haja pequenos bolsões de movimentos religiosos clandestinos.
Heroína e abuso sexual
Além das questões religiosas, o novo presidente herdará muitos problemas econômicos e sociais, sem falar no grande índice de dependência química entre os jovens maldívios e uma dívida internacional de milhões de dólares.
O jornal New York Times informou em 2010 que 50% dos jovens maldívios são viciados em heroína. Fora isso, a taxa de abuso sexual de jovens é alta, e os índices de divórcio estão entre os maiores do mundo. A economia vive quase que exclusivamente do turismo, mas menos de um terço da população é empregada; assim, o país sobrevive de empréstimos que são feitos regularmente no exterior.
Talvez o fator primário de união no país seja o islamismo, e políticos como Hassan usam sua fé para angariar apoio popular. Em abril passado, Hassan disse que o desenvolvimento do país deve ser pautado pelos valores e traduções islâmicos. “O islamismo é a religião mais civilizada”, ele disse.
O chefe da Justiça, Ahmed Faiz Hussein, protestou em silêncio pela tolerância religiosa em dezembro de 2011, “chocando a nação” e indicando um enfraquecimento na fé islâmica do país.
Enquanto isso, líderes da juventude no país pede pela implementação total da lei islâmica que, se aplicada, resultará na pena de morte para quem deixar o islamismo.
A despeito do resultado das eleições, as expectativas apresentadas pelo relatório da Classificação de países por perseguição são pessimistas quanto ao potencial de haver maior liberdade religiosa.
“Dado o rigor do governo e o apoio que ele obtém dos cidadãos maldívios, não se pode esperar mudanças substanciais nos próximos anos. É provável que o governo torne-se cada vez mais forte em qualquer divergência existente ou imaginária”, afirma o relatório.
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