A campanha de Fernando Haddad (PT) avalia que uma onda de voto evangélico se concretizou contra o petista e que o candidato precisa reforçar o canal direto com o eleitor mais pobre caso queira revertê-la e chegar ao segundo turno.
Em reunião nesta terça-feira (2), em São Paulo, integrantes da campanha do PT ao Planalto se debruçaram sobre pesquisas —inclusive as encomendadas pelo próprio partido— e identificaram um crescimento do apoio a Jair Bolsonaro (PSL), principalmente entre eleitoras mulheres, pobres e evangélicas, que ganham até dois salários mínimos.
Os resultados alarmaram o QG petista, que passou a temer uma vitória do capitão reformado do Exército ainda no primeiro turno caso seu crescimento não seja estancado.
De acordo com o Datafolha divulgado nesta segunda, Bolsonaro subiu quatro pontos desde a semana passado e chegou a 32%, seguido por Haddad, que tinha 22% e agora aparece com 21%.
Em um eventual segundo turno, os dois estão tecnicamente empatados: Bolsonaro cresceu de 39% para 44% e Haddad oscilou de 45% para 42%. A rejeição do petista, porém, disparou de 32% para 41%, ante 45% do candidato do PSL.
Na avaliação de petistas, o último fim de semana de setembro marcou a entrada definitiva de líderes evangélicos na campanha presidencial, o que pode ter alimentado o sentimento anti-PT e as intenções de voto a favor de Bolsonaro.
No domingo (30), o bispo Edir Macedo, que comanda a Igreja Universal do Reino de Deus, declarou apoio ao capitão reformado. Nesta terça (2), foi a vez do presidente emérito da Assembleia de Deus – Ministério Belém, pastor José Wellington, anunciar voto em Bolsonaro.
Na opinião de auxiliares de Haddad, o movimento pode provocar um efeito cascata em outras denominações, que devem orientar o voto dos fiéis durante os cultos, por exemplo.
Aliados, no entanto, afirmam que essa não é uma “batalha perdida” e que, até domingo (7) –data do primeiro turno–, Haddad precisa focar o eleitorado mais pobre, com um discurso firme sobre economia, para tentar retomar o voto que historicamente foi de apoio ao PT.
O desafio até lá é o mesmo: o candidato tem que se despir de seu discurso habitualmente empolado e professoral e falar de maneira mais assertiva, diretamente para o povo, o que não funcionou no debate da Record, no domingo (30), por exemplo.
O evento da Rede Globo, na quinta-feira (4), o último antes do primeiro turno, é considerado “decisivo” para Haddad. Assessores dizem que ele precisa alcançar esse eleitor mais pobre, que já votou no ex-presidente Lula mas que, desta vez, está na órbita de Bolsonaro —ou até mesmo ainda não sabe que é ele o candidato do PT.
A campanha petista teme que a tendência de queda entre o eleitorado mais pobre, somada ao crescente antipetismo, coloque mais combustível na sensação de que Bolsonaro pode vencer no primeiro turno, impulsionando o voto útil anti-PT.
Esses eleitores poderiam sair de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo), Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB), por exemplo, que, juntos, hoje somam cerca de 20%.
No campo mais à esquerda, Ciro Gomes (PDT) permanece com 11% no Datafolha e há quem acredite, dentro do PT, que pode haver na reta final um movimento de voto útil anti-Bolsonaro do ex-governador do Ceará para Haddad.
Os últimos levantamentos mostravam uma estabilidade do patamar de Bolsonaro, em torno de 28%, mas ele cresceu fora da margem de erro nos últimos dias, o que preocupou a equipe de Haddad. O petista, que por sua vez vinha crescendo, estacionou com 21%.
A avaliação da campanha do PT é que, além do voto da mulher pobre e evangélica, Bolsonaro avançou sobre a classe média anti-PT que antes estava declarando voto para Alckmin ou Marina.
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