Um monge ortodoxo grego de 76 anos é espancado por aldeões. Suas oliveiras são arrancadas pela raiz e seu monastério isolado, na Cisjordânia, é deteriorado com pichações.
A terra do nascimento de Jesus não é mais um bom lugar para os cristãos viverem em 2006.
A população de cristãos na Terra Santa, em especial nos territórios palestinos, definha, à medida que mais e mais pessoas vão embora, buscando uma vida melhor no exterior. A comunidade fica sendo então uma minúscula minoria, espremida entre judeus e muçulmanos.
Essa tradicional classe comerciante, totalmente dependente do dinheiro dos turistas, entrou em recesso desde que o levante palestino começou em 2000 e Israel cercou Belém com um muro.
Os israelenses dizem que o muro foi feito para impedir os homens-bombas. Os palestinos dizem que o muro é uma forma de roubar espaço.
Canon Andrew White, ex-enviado do Oriente Médio pela igreja Anglicana, disse que os cristãos sofrem tanto com os extremistas islâmicos como com as medidas de segurança israelenses.
Enquanto incidentes tão violentos como a agressão do monge ortodoxo grego são raros, a vida para os cristãos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza tem se tornado mais precária na última década.
Pegas em meio ao conflito, as igrejas buscam ajudar os cristãos locais de forma silenciosa, sem perder o navio, Ela também toma cuidado ao criticar a Autoridade Palestina, o que pode para alguns é equivalente a apoiar Israel.
O mundo tem que acordar para a realidade do que está acontecendo. Não deve só ver isso como uma questão política, apoiando um lado ou outro. O mundo deve perceber que os cristãos são as pessoas que ficam suspensas entre os dois lados", Canon disse à agência de notícias Reuters.
Na época da ascensão do islamismo, no século VII, os cristãos eram a maioria na Terra Santa. Há um século, eles eram 20% da população.
A migração da classe média cristã foi causada pelas guerras árabe-israelenses no século 20, e se intensificou nas últimas décadas com o aumento da violência.
Hoje há por volta de 50 mil cristãos nos territórios palestinos - cerca de 1,5% da população - e 100 mil cristãos em Israel - cerca de 2%.
Como todos os palestinos, os cristãos sofreram com a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.
Alguns cristãos são líderes dentro da Autoridade Palestina, outros estão nas facções militantes. A maioria tem um forte senso de nacionalismo palestino.
Lista de reclamações
A corrupção e a falta de lei na Cisjordânia e em Gaza na década passada atingiu mais os cristãos do que os outros, porque, como uma minoria, eles não são capazes de se defenderem sozinhos.
Enfurecidos com a falha da Autoridade Palestina em agir, e com a reserva das igrejas em falar, um grupo de cristãos em Belém fez uma lista de reclamações, que incluiu o furto de suas terras por muçulmanos, ataques e profanações de propriedades da Igreja.
Os cristãos passaram a lista aos líderes da igreja, dizendo que as autoridades não fizeram nada para ajudar.
Nos dias de hoje os cristãos ainda sofrem uma incerteza extra, com o grupo islâmico militante Hamas. Esse grupo prega o estabelecimento de um estado islâmico, em vez de um secular. Esse objetivo deixa os cristãos com medo de ficar lá.
Desde a vitória do grupo nas eleições de janeiro,os oficiais do Hamas prometerem se dirigir às reclamações cristãs, acendendo a esperança de que a vida poderá realmente melhorar sob o movimento islâmico fundamentalista.
Não há números exatos da taxa de emigração, mas estima-se que, a cada ano, mil cristãos deixem o território.
"Se essa situação continuar, a Igreja do Santo Sepulcro e a Igreja da Natividade serão museus frios e vazios", disse Samir Qumsieh, empresário palestino-cristão. Essas igrejas são duas das capelas cristãs mais sagradas.
Por todo o Oriente Médio, estudiosos cristãos dizem que a tensão cresce entre árabes cristãos e seus vizinhos muçulmanos. Os muçulmanos acham que os cristãos pertencem ao mundo ocidental, que eles culpam pelo conflito no Iraque e por outros problemas regionais.
"Embora o cristianismo cresça no Oriente Médio, os cristãos são vistos cada vez mais como parte do ocidente. Eles correm o risco de ser atacados por causa disso", Canon disse.
Além da agressão do monge ortodoxo grego na área de Belém, uma escola paroquial na cidade de Ramallah, Cisjordânia, foi bombardeada duas vezes. Um centro de estudos bíblicos recebeu ameaças: ou fechava ou seria queimado.
"De vez em quando os jovens de nossa paróquia são atacados por jovens muçulmanos, que invadem o pátio do convento", um padre disse à agência de notícias Reuters.
No ano passada, o conflito entre cristãos e muçulmanos explodiu em duas cidades da Cisjordânia. Houve também confrontos entre árabes drusos e cristãos em uma vila galiléia, em Israel.
Os incidentes se baseiam em conflitos culturais sobre honra de família. Alegações de mulheres sendo desonradas deixam as famílias furiosas, partindo para os conflitos. Os incidentes também acontecem por disputa de terra.
Eles apontam para a situação sofrida pela pequena população cristã na sociedade. Lá, o tamanho e a influência do grupo familiar é geralmente o juiz final nas disputas.
"Somos vistos como cristãos aos olhos de nossos conterrâneos e muçulmanos, e somos vistos como palestinos aos olhos de Israel e do ocidente. Perdemos nos dois lados", disse uma fonte anônima.
Monge agredido
No caso do monge agredido, que vive em um monastério com duas freiras, os abusos acontecem há mais de uma década.
"Um dia eu cuidava das minhas oliveiras quando eles me agrediram, muito. Eles rasgaram minhas roupas. Estavam prontos para me matar. Então eles puseram um cercado de arame em volta de mim", disse o monge.
No fim do ano passado, desenhos de freiras sendo estupradas foram pichados na propriedade do monastério.
A Igreja Ortodoxa Grega disse que o caso era uma disputa de terra entre vizinhos. Outra fonte disse que "a Igreja tem seus interesses e pode ser ferida se falar alguma coisa".
Disputas de terra são uma fonte particular de tensão entre muçulmanos e cristãos na região de Belém. O espaço está diminuindo em uma cidade bloqueada por Israel e as famílias muçulmanas crescem mais rápido que as cristãs.
Os cristãos reclamam que seus apelos aos tribunais palestinos não foram ouvidos, embora as disputas de terra envolvam muçulmanos também.
"Esse não é um confronto muçulmano-cristão. Historicamente, vivíamos em paz", disse o empresário Samir. "Estão atacando os cristãos porque somos o elo mais frágil."
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