Boutros, coordenador do trabalho humanitário que a Portas Abertas faz na Síria relatou sua experiência e análise sobre os confrontos recentes ao viajar para a região e conversar com cristãos locais:
"Dois anos após os conflitos armados sírios, dirigíamos em uma estrada deserta ao norte do Líbano em direção à fronteira síria. Atravessar a fronteira não é possível, pois poria em perigo o trabalho de nossos parceiros.
Uma olhada final para a fronteira e o país por detrás; uma nação dilacerada por conta de um confronto interno. O exército do presidente Assad tem agido de maneira muito dura contra qualquer um que se oponha ao seu governo. Do outro lado, os combatentes da oposição não se abstêm de nada em sua batalha contra o regime.
Parte deles quer transformar a Síria em uma nação islâmica, sem lugar para outras minorias. Os cristãos, muitas vezes, ficam presos entre as facções combatentes ou fogem em grande número. Por serem pacíficos, isso os torna alvo fácil para os diferentes grupos ou para os sequestradores. Enquanto isso, em outras regiões do país, a vida parece continuar como sempre. Nada disso pôde ser sentido durante nossa visita à fronteira nesta desolada terra de ninguém. Dirigimos de volta. Grossas gotas de chuva atingem o para-brisa do carro. Em silêncio, oro pela Síria, pelos cristãos próximos ao desespero, pelas facções combatentes; pela paz. Então, sou tomado pela dúvida. Quão realista é pensar em uma solução para o conflito? Entrego também esta pergunta e minhas dúvidas ao Senhor em oração.
Toda a guerra é complicada. Não há respostas fáceis. Tentamos responder o melhor que podemos às diferentes situações de forma que as pessoas realmente tenham o que precisam. Sabemos a quem devemos ajudar porque os pastores conhecem o povo necessitado em suas congregações. Isso é certamente diferente com os refugiados que batem em suas portas. Muitas vezes, adquire-se uma primeira impressão de seu aspecto e nosso pessoal visita as famílias desalojadas para ter uma correta impressão de sua situação. Trabalhando assim, sabemos que nossa ajuda chega a quase todas as pessoas. Todavia, de maneira alguma podemos evitar que algumas pessoas também tentem obter ajuda em outro lugar e adquiram mais auxílio. Nenhum sistema é perfeito.
Tento imaginar como é ser forçado a fugir e deixar quase tudo para trás. Você só pode levar o que cabe em uma mala. A grande pergunta é: o que acontecerá com seu apartamento, com seus pertences? Ontem, falei com pessoas que experimentaram isso.
Em uma atmosfera de paz em um convento onde mais de 40 famílias encontraram refúgio, falamos sobre a guerra. Marcus de Al Qamishli é um homem amigável, em seus cinquenta anos, de cabelo grisalho curto. Ele tinha sua casa e seu próprio negócio e agora está com sua esposa e filhos em um convento, esperando conseguir um visto temporário para a França. Ele quer retornar à Síria quando houver paz novamente.
‘Houve ataques com bombas em nossa cidade, mas o motivo mais importante para sairmos foi que era impossível viver lá. Não tínhamos água, eletricidade, nem telefone, nada.’ O risco de ser sequestrado predominou na decisão. ‘Os sequestradores são pessoas de nossa própria vizinhança. Eles veem os sequestros como uma maneira fácil de ganhar dinheiro.’ Os cristãos são alvos específicos nisso? Marcus dá de ombros: ‘Sei que 90% das pessoas sequestradas são todas cristãs. Um amigo meu foi liberto depois de 40 dias. Foi pago um resgate de 80 mil dólares por ele.’ Ele diz isso quase que retraído.
De repente, seu tom muda. ‘No mês passado, estávamos com tanto medo que mal dormíamos. Estava com medo de que minha filha de 15 anos fosse sequestrada. Eu a levava para a escola, ficava esperando até as aulas terminarem e a levava para casa novamente.’ Podia-se ver a tensão em seu rosto.
Marcus está preocupado com seus filhos. ‘Eles estavam construindo suas vidas e, de repente, tudo virou de cabeça para baixo. Meus filhos estão deprimidos.’ Ele enxuga uma lágrima do rosto. ‘Oramos todos os dias para que Deus salve a Síria da ruína. Oramos por paz. Confiamos que, através da oração, as coisas podem mudar, que as coisas irão melhorar na Síria’, conclui.”
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