Um jornal sul-coreano relatou no dia 9 de junho que as autoridades comunistas do Laos prenderam 10 refugiados norte-coreanos e dois ativistas sul-coreanos no fim de maio. Eles tentavam chegar em segurança à Tailândia.
Depois de quase duas semanas de tensas negociações com as autoridades, os refugiados foram entregues aos cuidados da embaixada sul-coreana no dia 10 de junho.
A polícia laotiana prendeu o primeiro grupo, formado por oito refugiados e um ativista na província de Luang Namtha, norte do país, no dia 31 de maio. Outros dois refugiados e seu guia ativista foram presos quase ao mesmo tempo.
Os refugiados foram identificados como Cha Song-chol (homem, 53 anos); Cheon Yong-kum (mulher, 58 anos); Cha Kwang-su (homem, 25 anos); Kim Kyong-suk (mulher, 71 anos); Chu Hi-ok (mulher, 40 anos); Yim Jong-suk (mulher, 36 anos); Shim Yong-kum, (mulher, 35 anos); Park Yong-nan (mulher, 26); Jeon Song-hi (mulher, 26) e Kim Jong-ae (mulher, 35 anos).
Os dois ativistas sul-coreanos foram identificados como Kim Hee-tae e Shin Sang Hwa. Acredita-se que ambos sejam cristãos.
Não se sabe a filiação religiosa dos 10 desertores norte-coreanos.
Com exceção de poucas igrejas "de fachada" em Pyongyang, a prática do cristianismo é ilegal na Coréia do Norte. O reverendo Tim Peters, do grupo filantrópico Mãos Auxiliadoras Coréia, acredita que a Igreja está viva e bem, com uma estimativa de 200 a 400 mil cristãos vivendo no país.
As estimativas são visivelmente difíceis de se conseguir em uma situação tão restrita, disse Tim em uma entrevista por telefone. Mas ele diz que a história cristã mostra que onde quer que haja perseguição, a Igreja cresce.
A crescente maré de refugiados
Deixar a Coréia do Norte sem permissão oficial é um crime sério. Os guardas de segurança questionam todos os refugiados que voltam à força; muitos são torturados e/ou presos. Aqueles que retornam com uma Bíblia, ou que admitem ter tido contato com cristãos na China, sofrem certo tipo de tortura e prisão, e, em alguns casos extremos, execução.
Apesar desses riscos, centenas de norte-coreanos continuam a atravessar a fronteira para entrar na China, procurando refúgio das brutalidades do regime.
Milhares de refugiados norte-coreanos estão vivendo na China. Sem cidadania legal, entretanto, eles correm sempre o risco de ser presos e mandados de volta para casa. O governo chinês aumentou recentemente o "prêmio" pago por entregar um refugiado norte-coreano. De mil iuanes (125 dólares), o prêmio foi para 3 mil iuanes (375 dólares).
"Os chineses levam a sério a expulsão de norte-coreanos", Tim confirmou.
Segundo Tim, a China devolve à força uma média de 500 norte-coreanos por mês, às vezes 200 por semana.
Intervenção urgente
Temendo que os refugiados em Laos possam ter o mesmo destino, grupos de direitos humanos pediram uma intervenção urgente da ONU, bem como dos governos norte-americano e sul-coreano. Quando todas as tentativas fracassaram, um representante do Mãos Auxiliadoras Coréia, pagou uma quantia de 500 dólares para cada um dos oito dos refugiados; outro ativista pagou pelos outros dois.
Em resposta, as autoridades laotianas emitiram um certificado para cada refugiado no dia 2 de junho, dando-lhes sete dias para se reportarem à embaixada sul-coreana na capital, Vientiane.
Mas, no dia 3 de junho, a polícia da província de Luang Prabang prendeu de novo os 10 e os manteve no centro de detenção de imigração na cidade de Pang Mong. A polícia disse que os refugiados deveriam ser entregues à embaixada norte-coreana em Vientiane.
Muitos dias de uma tensa negociação se seguiram, com muitas organizações não-governamentais pressionando os governos laotiano e sul-coreano a conceder asilo aos refugiados.
Depois de quase duas semanas de negociação, o governo laotiano permitiu que a embaixada sul-coreana retirasse os refugiados de Pang Mong.
'Emigrantes econômicos'
A maioria dos refugiados na China não tem tanta sorte. A China tem um acordo mútuo de repatriação com a Coréia do Norte. Sob esse acordo, os refugiados norte-coreanos são chamados de "emigrantes econômicos" e são devolvidos ao seu país de origem.
Como "emigrantes econômicos", os desertores não se qualificam para receber assistência do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (UNHCR). A China adiou diversas vezes os pedidos do UNHCR para acessar as regiões da fronteira.
Múltiplas entrevistas com os refugiados, entretanto, evidenciam claramente os mais diversos tipos de abusos aos direitos humanos. Os refugiados relatam táticas de lavagem cerebral, controle de movimentos, duras cobranças de trabalho, prisão de até três gerações de uma família por infrações pequenas, e uma severa carência de comida, cuidados médicos e outros itens básicos.
Em suas memórias, Olhos dos animais sem cauda, a ex-prisioneira Soon Ok Lee descreve os trabalhos forçados, tortura, opressão e abortos forçados em um dos conhecidos campo de trabalhos da Coréia do Norte. Ela também disse que os cristãos eram separados para uma punição particular - uma observação que levou Soon a adotar o cristianismo. Ela foi a primeira pessoa a ser libertada de um campo de trabalho.
Uma longa estrada para a liberdade
Vários grupos de direitos humanos estão envolvidos em uma "estrada clandestina", transportando, em segurança, norte-coreanos da China para um terceiro país, através de diversos caminhos na Ásia. A maioria dos refugiados escolhe a Coréia do Sul como destino final. Os EUA receberam seus primeiros exilados norte-coreano em maio deste ano.
Tim Peters pediu orações pelos ativistas cristãos que punham sua própria liberdade em risco para ajudar os refugiados.
De acordo com Tim, cuidar do tratamento que a China dá aos refugiados norte-coreanos é um primeiro passo importante em direção a uma solução internacional. Todos querem uma fatia da expansiva economia chinesa - mas a questão dos refugiados contrapõe a política e o comércio lucrativo contra os direitos humanos, e a carteira geralmente ganha.
"Precisamos vincular os negócios com as questões de direitos humanos", Tim insistiu. "Parceiros comerciais internacionais precisam olhar com seriedade para as próprias posições em relação à China."
Quanto à mudança de regime que alguns observadores norte-coreanos prevêem, ele disse: "Não é possível fazer um previsão exata, porque há muitos fatores envolvidos".
A desesperança tem aumentado nitidamente. Tim disse que 95% das fugas da Coréia do Norte desde 1953 aconteceram nos últimos cinco ou seis anos, com um significativo aumento a partir de 2002. Ao mesmo tempo, os relatos dão conta de que a quantidade de refugiados caiu pela primeira vez em 2005, pela dificuldade de cruzar a fronteira ter aumentado.
"Pessoalmente creio que em um ano ou dois teremos uma espécie de abalo na Coréia do Norte", acrescentou Peter. "Mas devemos estar cientes de que a China não está dormindo. Ela está adentrando a Coréia - construindo infra-estrutura, comprando acesso aos portos norte-coreanos para atracar seus navios, apoiando a economia norte-coreana para seus próprios propósitos. Esses sinais são extremamente preocupantes."
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