Ele costumava ser um muçulmano devoto, um imã que foi educado nos princípios do Islã e na linguagem do Alcorão. Além disso, Dolimuddin nasceu em uma família muçulmana. Na mente dos moradores à sua volta, era impossível que um seguidor do profeta Maomé se tornasse um seguidor de Jesus Cristo. O dinheiro tinha de desempenhar um papel.
"Dá-nos 120 mil taca” (o equivalente a 3.630 reais), disse um dos quatro homens muçulmanos.
"Por que eu preciso pagar uma quantia enorme de dinheiro?", perguntou Dolimuddin.
"Nós sabemos que você se tornou cristão", disseram os muçulmanos . "Nós sabemos que todos os meses você recebe dinheiro de cristãos."
Três dias antes, Dolimuddin havia participado de um seminário cristão na cidade de Daca. “Eles devem acreditar que eu recebi muito dinheiro”, pensou.
"Eu não me tornei cristão por causa do dinheiro", disse Dolimuddin, que se tornou um seguidor de Cristo em 2003, através de outro cristão de origem muçulmana. "Além disso, eu não tenho dinheiro para lhes dar, e mesmo que eu tivesse, por que eu deveria pagá-los? Por que vocês exigem dinheiro de mim, quando eu não devo nada a vocês?"
Os quatro muçulmanos lançaram palavras abusivas contra Dolimuddin. Eles o chamaram de "ovelha negra", o que implica que ele trouxe vergonha para o Islã, e que ele era amaldiçoado por deixá-lo.
"Você merece morrer", eles disseram, "mas queremos mostrar-lhe bondade e não matá-lo. Então, estamos pedindo-lhe dinheiro. Se você não nos der, vamos levá-lo para fora da vila.”
Dolimuddin recusou-se a ir com os muçulmanos. As discussões cessaram quando uma enxada atingiu sua cabeça. Ele caiu ao chão e o sangue deixou sua visão turva. Os outros desferiram golpes na sua cintura e quadris, até que ele perdeu a consciência.
No dia seguinte, Dolimuddin acordou em uma cama de hospital. Sua filha e sobrinho correram até lá. Eles não conseguiram reconhecer o rosto devido aos graves golpes que ele havia sofrido. Ele tinha dez pontos na cabeça e perdeu os dois dentes da frente.
"Você quase morreu", disse o médico a Dolimuddin. "Você precisa de repouso completo durante dois meses e deve continuar a tomar seus medicamentos. É um milagre que você ainda esteja vivo!"
Com a ajuda de alguns amigos da igreja, Dolimuddin não precisou se preocupar com o hospital e despesas médicas. Enquanto se recuperava, um irmão foi até a delegacia de polícia local e relatou o ataque de 29 de agosto. Um policial chegou ao hospital para interrogar Dolimuddin sobre o incidente.
"Você deveria abrir um processo contra eles”, afirmou. Dolimuddin pensou sobre isso por um tempo. Enquanto isso, os quatro muçulmanos foram informados sobre a visita da polícia e procuraram a ajuda do presidente do conselho do sindicato local, um funcionário da aldeia. O presidente foi até o cristão.
"Por favor, não abra um processo e vamos providenciar uma solução", disse o presidente. "Eu sei que vocês, os cristãos, são pessoas de paz. Vocês odeiam brigas e perdoam." Esta é a minha chance de provar que ele estava certo, Dolimuddin pensava. "Tudo bem. Vamos resolver."
Quando Dolimuddin estava recuperado, enfrentou seus agressores, mais uma vez, em uma reunião da comunidade, juntamente com o presidente do conselho do sindicato local e do policial que o havia aconselhado. Os quatro muçulmanos assinaram uma declaração oficial de que não fariam mal a Dolimuddin no futuro e, se o fizessem, seriam cobrados imediatamente. Por sua parte, Dolimuddin declarou-se um seguidor de Cristo e que sua escolha foi um ato de livre-arbítrio.
"Foi difícil para as pessoas da minha comunidade compreender e aceitar que um imã pode se tornar cristão", disse Dolimuddin à Portas Abertas. "Eu estudei o Alcorão e sabia muito sobre o Islã. Os muçulmanos tinham medo de que eu usasse esse conhecimento para convertê-los. Eu fui atacado muitas vezes para ser impedido de compartilhar o meu testemunho."
Apesar do acordo, Dolimuddin nunca foi compensado pelos ferimentos que sofreu. "Eu não estou triste com isso", disse ele. "Pelo menos, eles entenderam que o que eles fizeram para mim foi errado e prometeram não fazê-lo novamente. Embora o meu corpo ainda sinta dor, e eu não tenha dois dentes da frente, estou feliz porque, finalmente, depois de dez anos, eu posso expressar a minha fé abertamente."
"Por causa do que aconteceu", continuou ele, "os meus vizinhos, o presidente do conselho, e agora, até mesmo a polícia, me reconhecem como cristão. Eles não estão mais confusos sobre a minha identidade espiritual."
Dolimuddin, sua esposa Bijli, de 30 anos, e seus três filhos, ainda vivem na aldeia em Thakurgaon.
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