Um diálogo com o congressista americano, Joseph R. Pitts, sobre as minorias religiosas na Índia
Portas Abertas: O que levou o Sr. a viajar para a Índia e procurar saber a respeito da violência extremista hindu lá?
Joseph Pitts: Bem, estamos aqui em primeiro lugar como uma delegação de Membros do Congresso. Ouvimos falar a respeito de tumultos religiosos, particularmente os de Gujarat no início de 2002. Ouvimos a respeito dos esforços de reconciliação entre os vários grupos minoritários, e quisemos oferecer nosso apoio.
Em Ahmedabad, tivemos a oportunidade de distribuir as chaves para as casas construídas para os sobreviventes do massacre de 2002. Nós nos tornamos parte de uma pequena celebração de esforços para recuperar algumas vidas das famílias das vítimas dos tumultos. Visitamos o local do massacre do parlamentar Ehsan Jaffrey e de muitos outros que foram brutalmente assassinados pelos extremistas hindus.
Queremos lembrar a administração indiana sobre os campos de extermínio da Segunda Guerra Mundial. A morte e o assassinato brutal não devem acontecer novamente. As autoridades do governo local precisam investigar e processar criminalmente os autores da violência. Deve haver justiça, mas deve haver também uma crescente consciência entre as autoridades para desestimular este tipo de violência, discriminação e ódio.
Queremos promover organizações que trabalham para a harmonia comunitária, como o Conselho Cristão da Índia e outras organizações que estão constantemente combatendo a perseguição aos cristãos, muçulmanos e outras minorias e estão promovendo a harmonia étnica e religiosa. Estes grupos estão provendo uma liderança corajosa para construir a paz e a harmonia no país. Cremos que, a menos que as pessoas vivam em paz, uma nação nunca prosperará.
Portas Abertas: Com visitas como estas, como o Sr. consegue reunir apoio para as minorias perseguidas da Índia?
Joseph Pitts: Nós temos mecanismos em nosso governo para tratar de assuntos internacionais, particularmente de questões dos direitos humanos. Todos os anos o Departamento de Estado publica os Relatórios de Países sobre a Prática dos Direitos Humanos, nos quais as políticas dos direitos humanos de todos os países do mundo são examinadas. Como membros do congresso, gostaríamos de estimular as boas políticas em países como a Índia. Não queremos ver continuar o sofrimento do povo. Penso que temos a responsabilidade de agir para ajudar a aliviar o sofrimento de cristãos, muçulmanos, dalits e qualquer outro grupo que esteja sofrendo.
Damos de fato a ajuda americana a várias organizações que mitigam o sofrimento. Isso é muito importante. Estamos muito interessados na liberdade religiosa. A nossa delegação está enfatizando a liberdade religiosa bem como a harmonia étnica e religiosa. Ouvimos testemunhos a respeito de leis anti-conversão, que basicamente estão tirando a liberdade religiosa das pessoas. Isso é contrário ao que defende a democracia.
A Índia é a maior democracia do mundo. As pessoas têm o direito à liberdade religiosa. O governo assinou documentos internacionais que apoiam a proteção dos direitos humanos fundamentais como a liberdade religiosa. A constituição da Índia apoia o direito das pessoas acreditarem livremente em qualquer crença e escolher suas convicções religiosas. A lei anti-conversão que foi promulgada em alguns Estados vai diretamente contra isso.
Portas Abertas: De que fatos surpreendentes o Sr. ficou sabendo nesta visita à Índia?
Joseph Pitts: Desta vez, além de ficar sabendo mais a respeito da perseguição aos cristãos, muçulmanos e outros, recebemos relatórios em primeira mão sobre os dalits, aproximadamente 250 milhões de hindus desterrados que sofrem de forma quase indescritível e desumana. Esta é uma grande tragédia dos direitos humanos. Temos a obrigação de chamar a atenção dos líderes nacionais do nosso país para isso. A Índia é amiga dos Estados Unidos. Aprecio muito a liderança do primeiro ministro Atal Behari Vajpayee no que se refere à sua iniciação às medidas de formação da confiança e do diálogo de paz com países vizinhos. Mas existem questões internas, como a liberdade de religião que os líderes indianos devem tratar seriamente.
Portas Abertas: O Sr. pode reunir apoio no congresso americano com relação a esses assuntos?
Joseph Pitts: Penso que podemos despertar a consciência nos Estados Unidos sobre tais assuntos a novos níveis. Podemos certamente persuadir outras pessoas e membros do congresso para que vão ver a situação por eles mesmos. Podemos pedir que seja dada mais atenção as esses assuntos pelo governo e pelo povo dos Estados Unidos.
Portas Abertas: Que pontos surgiram na mente do Sr. pela contínua perseguição aos cristãos na Índia?
Joseph Pitts: Os cristãos na Índia são um grupo minoritário facilmente feitos como alvos e explorados. Estamos muito preocupados com o crescimento do extremismo, seja ele islâmico, hindu ou budista. Existem alguns elementos extremistas, apesar de não ser indicativo da maioria de hindus, muçulmanos e budistas, que estão usando as circunstâncias para seus próprios objetivos políticos. Isto é verdade no Paquistão, no Sri Lanka, na Índia e outras partes do sul da Ásia.
A união cristã-muçulmana que estamos presenciando hoje é um modelo maravilhoso que precisa ser copiado por outros países. Vamos continuar advogando em favor dos cristãos perseguidos e de outras minorias na Índia porque eles são feitos alvos explícitos. Eles estão sofrendo terrivelmente em muitos países do sul da Ásia.
Portas Abertas: Qual a consciência que tem a administração americana a respeito da perseguição aos cristãos na Índia?
Joseph Pitts: Existe alguma consciência na administração Bush. Mas não creio que esteja sendo dada a devida atenção a esses assuntos. Uma coisa que vamos pedir do nosso governo é mais atenção à liberdade religiosa e outras questões dos direitos humanos no sul da Ásia. Os Estados Unidos podem desempenhar um papel positivo ao destacar essas questões em vários relatórios de governo.
Portas Abertas: Qual a sua avaliação pessoal da situação na Índia que está produzindo leis que impedem a conversão e a liberdade das missões?
Joseph Pitts: É uma coisa triste. Estamos encantados em estar na Índia com sua maravilhosa diversidade. É triste ouvir a respeito de violência religiosa numa nação onde os líderes defendem com firmeza a reconciliação e o protesto pacífico, não a violência. É trágico quando as pessoas perdem quaisquer liberdades, particularmente um direito fundamental como a liberdade religiosa, depois de muitos anos desfrutando essas liberdades. Para que ocorra uma mudança positiva, os líderes da nação devem tomar uma posição para reverter as tendências negativas e apoiar essas comunidades minoritárias.
Portas Abertas: Quais experiências íntimas o Sr. está levando da Índia?
Joseph Pitts: Esta visita foi ótima. Ela nos ajudou a compreender questões que não teríamos tomado conhecimento em detalhes sentados em nossos gabinetes nos Estados Unidos. É vital conhecer as pessoas que estejam passando por perseguição, ou que foram alvo da violência, ou estão tentando aliviar a violência. Agora podemos identificar pessoas e certas situações.
Se você vê uma comunidade que foi atacada e interage com as pessoas, é bem diferente do que ler a respeito. Se você de fato vê uma xícara de chá ou um par de sapatos revirados numa casa incendiada em Gujarat, não esquece esses assuntos. Realmente não esquece.
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