A marca francesa de roupa desportiva Decathlon decidiu cancelar a venda de “hijabs de corrida”, dias depois de ter anunciado a comercialização do produto, devido a “ameaças”.
O hijab é um termo utilizado especificamente em referência às roupas femininas tradicionais do Islã, ou ao próprio véu.
A Decathlon emitiu um comunicado no site e nas redes sociais informando que irá suspender a venda do equipamento “face às ameaças que a equipa está sofrendo”.
“A nossa missão é de criar, por e para todos os desportistas, produtos técnicos a preços mais justos, em todo o Mundo. Foi nesse espírito que desenvolvemos o hijab “Kalenji”, a partir dos desejos expressos pelos nossos clientes marroquinos. Face à violenta polêmica suscitada e às ameaças proferidas que ultrapassam muito a nossa vontade de responder aos desejos dos clientes, a nossa prioridade é encontrar uma solução pacífica. Neste contexto, suspendemos o nosso projeto de venda deste produto na França, a fim de garantir a segurança da nossa equipe”, anunciou a empresa.
Horas antes, a Decathlon já tinha expressado alguma preocupação com o tema nas redes sociais. “Bom dia a todos! Como podem imaginar, recebemos muitas mensagens sobre o nosso hijab de corrida. Infelizmente, não podemos responder a todos”, começou por alertar a marca.
E prosseguiu: “O produto tem causado várias reações e isso preocupa-nos. Sabemos que não são todos da mesma opinião sobre o assunto. No entanto, desde esta manhã temos enfrentado uma onda de insultos e ameaças sem precedentes”, revelou a Decathlon, antes de mostrar algumas das mensagens que recebeu de clientes.
“O nosso serviço de apoio ao cliente recebeu mais de 500 mensagens e e-mails desde esta manhã. As nossas equipas nas lojas foram insultadas e ameaçadas, às vezes fisicamente. Para se ter uma ideia, aqui estão algumas mensagens que recebemos”, escreveu a empesa numa nova publicação, com as imagens dos e-mails. “É dinheiro podre que trai os valores da República Francesa e é uma vergonha que contribuam para a invasão islamita”, diz um dos clientes. “Vocês vendem cintos explosivos?”, questiona outro. “Também vão comercializar um jogo de treino de apedrejamento de mulheres?”, pergunta mais um.
A marca já vendia o equipamento e anunciou, há dias, que iria colocar o artigo à venda nas lojas francesas. De imediato surgiram reações de clientes, assim como de políticos, diz o jornal britânico “The Guardian”.
A ministra da Saúde do Governo de Emmanuel Macron, Agnès Buzyn, assumiu que “é uma visão da mulher” de que não partilha e que “preferia que uma marca francesa não promovesse o hijab”.
Por sua vez, Aurore Bergé, partidária do partido de Macron, “La République en Marche”, partilhou a sua opinião no Twitter: “A minha escolha enquanto mulher e cidadã é de não confiar mais numa marca que desrespeita os nossos valores”, afirmou, boicotando a marca.
Objetivo era tornar o desporto “acessível a todas as mulheres”
A marca, que enfrenta vários problemas econômicos em França, tinha anunciado no site o lançamento de um hijab para as mulheres que desejam fazer corrida “mantendo o pescoço e os cabelos escondidos”. A empresa revelava ainda que o produto estaria disponível em três tamanhos. “Foi testado várias vezes por vinte mulheres que costumam usar o hijab e foi validado pelo seu conforto”, explica a Decathlon.
O produto deveria chegar ao mercado francês no final de março. De acordo com Angélique Thibault, gerente da marca, o hijab foi criado em resposta ao aumento de pedidos por parte de atletas marroquinas.
Em relação aos comentários menos positivos, a gerente sublinhou a vontade da marca em tornar a “prática desportiva acessível a todas as mulheres”, suportados pela vontade de “tolerância absoluta e inclusão total”. “Este hijab vai permitir que todas as mulheres possam correr de forma livre, em todas as cidades do mundo, independentemente do seu nível atlético, fitness, morfologia, orçamento, religião ou cultura”, referiu.
Por outro lado, a Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade condenou a decisão da marca, sublinhando que reforça o “apartheid sexual” e o “confinamento” das mulheres em países como o Irã, a Argélia e Arábia Saudita.
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