Líderes cristãos quenianos estão incentivando suas congregações a que se oponham à futura votação de uma nova constituição para a nação leste-africana, porque o documento proposto dá reconhecimento à lei islâmica (sharia).
Sob a Constituição existente no Quênia, a corte sharia (também conhecida como "corte Kadhi", depois do título do oficial que a presidia) permite julgar questões familiares e de heranças relacionadas à minoria muçulmana, embora não em disputas criminais.
A nova Constituição poderá estabelecer as cortes como parte do sistema judiciário nacional.
Líderes de igreja dizem que é errado que corpos puramente religiosos sejam incorporados na Constituição de uma nação secular, onde as pessoas seguem várias religiões.
Cerca de 11% da população de 30 milhões do Quênia é muçulmana, 45 % são protestantes, 33% são católicos romanos e 12% aderem a credos indígenas e outros.
Os líderes cristãos expressaram sua preocupação porque o reconhecimento das cortes poderá eventualmente levar à aplicação da lei islâmica em assuntos criminais, uma questão controversa, pois a sharia prevê punições severas, como apedrejamento até a morte ou a amputação de membros por certos crimes.
"É melhor permanecermos com a atual Constituição do que adotar um documento que irá atirar o país ao caos", disse o bispo Mark Kariuki da Igreja Evangélica Deliverance.
Os clérigos do Quênia têm assistido à situação do estado nigeriano de Kano, um dos 12 estados no país que adotaram a lei sharia.
No mês passado, Kano introduziu um sistema de transporte público segregacionista entre os sexos, o último passo em sua implementação do código islâmico.
No Quênia, o debate está ameaçando descarrilar um processo longo e franco de revisão e atualização da Constituição para as reformas políticas.
A Constituição proposta está agora sendo esboçada pelo procurador geral, cujo documento editado final deverá ser levado a um referendo nacional em novembro.
Mas os líderes de igrejas estão agora pedindo que as mudanças propostas para a corte sharia sejam retiradas por alguns anos, permitindo mais debates entre os seguidores das duas religiões.
"Oramos para que a nova Constituição não condene o país para um estado sharia", disse o bispo Kihara Mwangi, um líder de igreja e legislador.
Por outro lado, os muçulmanos estão ameaçando rejeitar toda a Constituição proposta se a seção reconhecendo as cortes Kadhi for omitida, afirmou o muçulmano Najib Balala, um ministro de gabinete.
No ano passado, os muçulmanos do Quênia ameaçaram formar seu próprio estado sob a lei islâmica se as cortes Kadhi não fossem formalmente reconhecidas pela Constituição.
Alguns acusaram os cristãos de trabalhar com "evangelistas estrangeiros" dos EUA para suprimir a liberdade desfrutada pela comunidade muçulmana.
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