Temendo que o best seller O Código Da Vinci (lançado no Brasil pela editora Sextante, 480 págs., R$ 39) esteja semeando dúvida sobre crenças cristãs básicas, várias igrejas, clérigos e estudiosos cristãos da Bíblia estão correndo para refutá-lo. Nos últimos 13 meses, os leitores compraram mais de 6 milhões de exemplares desse suspense histórico que alega que o cristianismo fundou-se num acobertamento e que a Igreja conspira há séculos para esconder evidências de que Jesus era um mero mortal, casou-se com Maria Madalena e teve filhos, cujos descendentes vivem hoje na França.
Notícias de que o diretor Ron Howard está fazendo um filme baseado no livro apenas intensificaram a pressa dos críticos. Mais de dez livros estão sendo lançados, a maioria este mês, com títulos que prometem quebrar, violar, abrir ou decodificar O Código Da Vinci.
Igrejas oferecem panfletos e guias de estudo a leitores que poderiam ter sido levados pelo romance a questionar sua fé. Um grande número de pessoas estão se reunindo para assistir palestras e sermões sobre O Código. Como esse livro é um ataque direto ao fundamento da fé cristã, é importante falarmos, disse o reverendo Erwin W. Lutzer, pastor da Moody Church, em Chicago - uma influente tribuna evangélica - e autor de The Da Vinci Deception (que pode ser traduzido como A Fraude Da Vinci) O reverendo James L. Garlow, co-autor com o professor Peter Jones de Cracking the Da Vinci"s Code (Quebrando o Código de Da Vinci) e pastor da Skyline Wesleyan Church, em San Diego, afirmou: Não creio que seja apenas um romance inocente com um enredo fascinante. Acho que ele veio para convencer as pessoas de uma visão incorreta e historicamente imprecisa, e está conseguindo. Elas estão aceitando a noção de que Jesus não é divino, não é o filho de Deus.
Entre os críticos de O Código Da Vinci estão protestantes evangélicos e católicos romanos que consideram o romance cheio de passagens celebrando o feminismo, o anticlericalismo e formas pagãs de culto uma nova infiltração de guerreiros culturais liberais. Eles dizem ainda que o livro explora a desconfiança do público em relação à Igreja Católica depois do escândalo dos abusos sexuais cometidos por membros do clérigo.
As obras que o refutam vão de densos volumes acadêmicos a magros guias de estudo. Entre as editoras envolvidas estão casas cristãs conhecidas, como Tyndale e Thomas Nelson, e outras menos célebres. Dos dez novos livros que tratam do tema, oito são de editoras cristãs. Uma editora cristã evangélica, a Tyndale House, que encontrou a mina de ouro com a série Deixados para trás, está prestes a lançar não um, mas dois títulos refutando O Código Da Vinci.
Como a maioria dos livros chegou às lojas recentemente - ou ainda nem foi lançada- é cedo demais para dizer se estão vendendo e para quem. Mas os críticos e seus editores esperam pegar carona na onda de sucesso do Código Da Vinci, no topo da lista de mais vendidos do New York Times há 56 semanas.
A editora Doubleday já imprimiu 7,2 milhões de exemplares do livro.
Don Brown, o ex-professor de colégio que escreveu O Código Da Vinci, recusa todos os pedidos de entrevistas. Segundo seu agente porque está trabalhando no próximo livro. Mas Brown diz em sua página na internet que aceita de bom grado os debates cultos sobre a obra. Ele afirma que, embora se trate de uma ficção, minha própria crença pessoal é de que as teorias discutidas por esses personagens têm mérito.
O Código Da Vinci tira proveito do crescente fascínio do público pelas origens do cristianismo. Cada vez mais estudiosos escrevem livros populares sobre as descobertas arqueológicas relativamente recentes e excitantes sobre os evangelhos agnósticos e textos que refletem a visão de cristãos antigos e apresentam divergências em relação aos Evangelhos do Novo Testamento. O enredo de O Código da Vinci é uma versão da velha busca pelo Santo Graal.
Robert Langdon, retratado como um brilhante professor de simbologia em Harvard, e Sophie Neveu, uma bela criptógrafa da polícia parisiense, unem-se para decifrar pistas deixadas por um curador assassinado no Museu do Louvre - que, descobre-se, era avô de Neveu.
A dupla descobre que o avô herdara o manto de chefe de uma sociedade secreta que pertenceu a Leonardo da Vinci. Essa sociedade guarda o Santo Graal, que não é um cálice, e sim a prova da relação conjugal de Jesus e Maria Madalena; Langdon e Neveu precisam rastrear o assassino para encontrar o Santo Graal. No caminho, descobrem que a Igreja havia suprimido 80 evangelhos antigos que negavam a divindade de Jesus, elevavam Maria Madalena a líder entre os apóstolos e celebravam o culto da sabedoria e da sexualidade femininas.
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