Pregação islâmica acaba em briga em uma barbearia na localidade de Waziristan do Sul
Um jovem cristão está escondido de membros do Talibã no Paquistão que tentam matá-lo por “blasfêmia” porque defendeu sua fé.
Em fevereiro, Jehanzaib Asher, de 22 anos, trabalhava na barbearia que sua família possui com seus primos em Wana, localizada em Waziristan do Sul – uma fortaleza do Talibã dentro das áreas tribais administradas pelo Governo Federal, no nordeste do Paquistão – quando militantes tentaram convertê-lo ao islamismo.
Não foi a primeira vez que Noor Hassan pregara sobre o Talibã para ele e seus familiares, mas daquela vez, Jehanzaib decidira não ouvir calado. Ele defendeu o cristianismo citando versículos bíblicos. Então Hassan e outro militante islâmico bateram em Jehanzaib – quebraram sua perna, algumas costelas e mutilaram sua mão.
Jehanzaib contou ao Compass que ele apenas defendera o cristianismo sem fazer nenhuma menção ao islã.
“Podemos tolerar a morte de um pai ou de uma mãe, mas podemos ficar ouvindo insultos contra nossa religião?”, perguntou Jehanzaib.
Alguns vizinhos muçulmanos ajudaram o rapaz e dois de seus primos a acabarem com o ataque. Lodo depois, alguns militantes talibãs começaram a espalhar um boato na vizinhança de que Jehanzaib e seu primo Christopher Masih tinham blasfemado contra Maomé, o profeta do islamismo.
O rapaz conta que antes da recente ofensiva do exército paquistanês contra a fortaleza talibã em Waziristan do Sul, sua foto fora colocada em vários pontos como uma tentativa de ajudar o talibã e outros extremistas islâmicos a identificá-lo e matá-lo.
O primo de Jehanzaib, Zaib Masih, conseguiu uma maneira de esconder o rapaz e Christopher (irmão de Zaib) em um carro e eles fugiram para a área onde suas barbearias estão localizadas. Por serem barbeiros, os dois são alvos de repressão e ataque por parte de muçulmanos por causa da oposição talibã em raspar a barba, conta Jehanzaib.
Zaib Masih disse ao Compass que seu irmão também ficou machucado no ataque, mas não tanto quanto Jehanzaib. Eles levaram o rapaz para um hospital militar, protegido dos talibãs. Mas quando os médicos perguntaram como Jehanzaib havia se machucado, eles disseram que tinha sido “uma briga de família” para não irar os soldados muçulmanos que poderiam atacá-los pela alegação de blasfêmia.
Jehanzaib ficou dentro de casa durante meses; nem mesmo os vizinhos sabam que ele ainda estava em Wana, conta Zaib.
“Nós moramos em um condomínio do exército, mas mesmo assim temíamos que o talibã avisasse a alguém e fossemos atacados por blasfêmia”, contou Zaib.
Zaib continua, dizendo que eles nasceram e foram criados em Wana e que conhecem vários membros do talibã. Com a ajuda de algumas dessas pessoas, eles conseguiram chegar a um grão-mufti (posição clerical dentro do islã) para obter um decreto que considerasse Jehanzaib inocente.
“Levei um cordeiro comigo como presente ao mufti para apaziguar sua raiva, mas ele não me ouviu e queria saber onde Jehanzaib estava”, acrescentou Zaib.
Jehanzaib ainda estava mancando e o Talibã estava determinado a matá-lo, conta Zaib. Então, eles planejaram esconder o rapaz em uma casa que sua família possui em Sialkot.
Ele também conta que, como o grão-mufti não estava presente quando o Talibã tentou matar seu primo, nenhum pedido de fatwa, um decreto islâmico, ordenou sua morte.
“Se isso tivesse acontecido, eu teria sido morto, com toda certeza”, ele conta. “O talibã estava matando até mesmo soldados do exército, que chance teríamos de nos defender?”
No início do mês, Jehanzaib contou ao Compass que se disfarçara de muçulmano com uma longa barba e deixara Wana.
Ele foi, a princípio para Sialkot, na província de Punjab. Entretanto, logo ficou sabendo que notícias de sua fuga se espalharam por Wana e que havia um rumor de que três membros do Talibã tinham sido despachados para Sialkot para caçá-lo. Abatido, Jehanzaib fugiu para outra cidade.
Jehanzaib relatou que havia se recuperado de todos os machucados, com exceção de seu joelho, que continuava inchado. Ele conta que estava recebendo tratamento em um hospital. “Só Deus poderia me salvar dessa calamidade”, disse, “de outra maneira, ninguém poderia ter me salvado”.
A barbearia da família fechou desde o problema com o Talibã. Zaib Masih disse que dois familiares têm empregos públicos como zeladores e que toda a família está sobrevivendo apenas com esses salários.
Desde que as barbearias foram fechadas, a família mal sequer consegue fazer duas refeições por dia.
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