Depois de uma onda de “casos de blasfêmia”, e tantos processos movidos contra os cristãos egípcios, a mais alta corte do país recuou, no mês passado, em seu veredito severo contra um jovem cristão. Bishoy Kameel Garas foi enviado para a prisão por seis anos, por supostamente insultar o islã, o presidente egípcio e a irmã de um xeique muçulmano. As alegações foram baseadas em mensagens consideradas ofensivas, expostas em um fake (página de Facebook falsa), aberto em nome da vítima.
"Garas foi acusado de blasfêmia em um momento muito ruim para os cristãos aqui no Egito", comenta o advogado, Magdy Farouk Saeed. As acusações apresentadas contra ele aconteceram no primeiro mês da eleição de Mohammed Morsi, como presidente do Egito, que também era líder da irmandade muçulmana. Em 25 de julho, o Tribunal de Cassação aceitou o apelo de Saeed, de que o processo de seu cliente, que se encontra preso, fosse analisado mais uma vez. Em resposta, o tribunal ordenou que Garas fosse levado para a audiência, em Cairo, no dia 12 de setembro.
Esse é o tipo de recurso que só pode ser aceito pela alta corte, com base em violação de leis. No caso do cristão, o advogado citou o artigo 32 do código penal egípcio, que estabelece uma pena máxima de três anos para qualquer pessoa condenada, por vários crimes de contravenção, cometidos simultaneamente, mas o acusado teve sua condenação dobrada. Em sua decisão, o juiz observou que havia um relatório técnico, onde estava documentado as duas contas do Facebook, em nome de Garas, uma das contas continha declarações ofensivas, e a outra advertia contra uma falsa conta com o mesmo nome. Tudo indica que a conta foi aberta por outra pessoa. Já a acusação de insulto contra o presidente foi cancelada e a sentença diminuiu em 2 anos.
Porém, do lado de fora do tribunal, salafistas irritados e apoiantes da irmandade muçulmana gritavam ameaças de morte contra Garas. Vários muçulmanos se reuniram também na frente da casa do acusado. “Eles queriam nos expulsar da cidade, mas os nossos vizinhos, que são muçulmanos moderados, entraram em confronto com eles. Tivemos que nos esconder na casa de um parente por um tempo, até a situação se acalmar”, diz Garas. Além disso, os radicais também ameaçaram sequestrar suas três irmãs. Garas perdeu seu emprego de professor, foi insultado e espancado por prisioneiros muçulmanos, durante seus três meses de prisão. Seus pais venderam joias e móveis para pagar os honorários dos advogados e, por enquanto, só podem contar com a ajuda financeira da igreja cristã egípcia e as orações dos cristãos, que acreditam que Garas será absolvido.
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