Igrejas têm chegado onde o Estado não consegue. Grupos cristãos estão oferecendo ajuda aos usuários de drogas da nova cracolândia de São Paulo, a praça Princesa Isabel, localizada na região central da cidade.
Recentemente o poder público através de ação policial invasiva, espalhou os dependentes da antiga Cracolândia para outros locais. Na Princesa Isabel, os agentes de saúde municipais e estaduais tentam refazer vínculos com eles, entretanto é aos religiosos que muitos preferem recorrer.
Muitos grupos missionários, de vertentes que vão da Igreja Católica a evangélicas batistas e neopentecostais, atuam há vários anos com trabalho permanente dentro dos limites da Cracolândia, em que a evangelização e a assistência social caminham juntos.
Em paralelo ao trabalho dos agentes da Prefeitura, cerca de 150 pessoas do projeto social Cristolândia foram na manhã de sábado (3) auxiliar os dependentes. “Entendemos que os usuários de crack estão excluídos da sociedade. Então, o trabalho é para resgatar essas pessoas e criar oportunidades para que elas sejam reinseridas”, contou Fernando Macedo Brandão.
Entre os apoiadores, há gente que passou pelas drogas e viveu na rua. “A gente sabe o que eles sentem. Muitos de nós também já passaram por essa situação. Eu morei nas ruas, e também sei o caminho para sair delas”, disse o missionário Marcelo Machado (31), membro do projeto.
Em imóvel próximo de onde funcionava a feira de drogas, a entidade cristã dá assistência a mais de 300 pessoas por dia, que buscam roupas, comida ou um lugar para tomar banho. Diariamente, é servido um almoço para os usuários que costumam frequentar o culto religioso ao meio-dia. Mas, a qualquer hora do dia ou da noite, há gente estendida na calçada em frente à igreja com cobertores.
Machado diz que o “maior objetivo é pregar o evangelho”, mas que a ação social pode ser o melhor meio para isso. Neste trabalho na cracolândia, é natural que as diferentes religiões esqueçam as diferenças e atuem colaborando umas com as outras.
Nildes Nery (54), pastora da Igreja do Evangelho Quadrangular, há 16 anos trabalha na cracolândia. Ela é conhecida por todos ali, onde também desenvolve o trabalho de sua ONG, que dá assistência aos viciados, a Ação Retorno.
O trabalho se fundiu a tal ponto com sua vida pessoal que atualmente a pastora mora na alameda Dino Bueno, onde funcionava o fluxo da cracolândia original. “Não é fácil estar aqui, mas quando você cria vínculo e passa a cuidar deles, é porque tem um chamado específico por esse público, de amor incondicional ao próximo”, afirmou Nildes.
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