A República Centro-Africana (RCA), que faz fronteira com o Chade, o Sudão e o Congo, foi um dos países mais evangelizados do mundo (pelo menos em um nível superficial), afirma o Operation World, manual sobre missões globais internacionalmente reconhecido, que destaca ainda que a população da RCA é formada por 76% de cristãos e 14% de muçulmanos.
Em março, Michael Djotodia depôs o então presidente com um golpe de Estado, e foi amplamente apoiado por uma coalizão de grupos rebeldes, incluindo islâmicos, que anteriormente haviam lutado para ganhar poder em todo o norte do país, onde a minoria muçulmana se encontra.
A Aliança Evangélica do país tem condenado os casos de violência mais recentes, que já custou a vida de mais de 100 pessoas. Em setembro, oito homens armados, que afirmaram ser próximos do ex-presidente François Bozizé, protagonizaram ataques na cidade de Bossangoa, a 250 km da capital Bangui, matando cidadãos muçulmanos, de acordo com o porta-voz do governo Guy-Simplice Kodégué.
Rebeldes da coligação Séléka enviaram tropas à área, realizando atos de violência contra cristãos, causando um grande número de acidentes. Testemunhas contatadas pelo World Watch Monitor relataram execuções sumárias, casas queimadas e igrejas saqueadas. A violência se espalhou para outras comunidades próximas, a exemplo de Bouca, a 100 km de Bossangoa. Já ocorreram ao menos 100 mortes e 50 pessoas ficaram feridas até agora, segundo dados do governo.
Dois funcionários de uma ONG Francesa, a Agência para Cooperação Técnica e Desenvolvimento, foram mortos fora de Bossangoa. Relata-se que os assassinos sejam ligados ao grupo Séléka. Mais de 4.500 pessoas estão refugiadas na diocese de Bossangoa, temendo mais violência. Um número indeterminado de pessoas fugiu em direção à mata.
O pastor Nicholas Guerékoyamé, presidente da Aliança das Igrejas Evangélicas da República Centro-Africana (preso mês passado por ter falado contra os ataques) condenou a violência recente, que, segundo ele, está levando o país a um conflito sectário. "Nós clamamos a todas as comunidades da República Centro-Africana a não cederem às tentações da divisão religiosa", disse o pastor ao World Watch Monitor.
Uma semana depois da violência, a tensão permanece em alta na porção noroeste do país. O arcebispo de Bangui, Dieudonné Nzapalainga, visitou a área para confortar as vítimas e avaliar suas necessidades. Iniciativas semelhantes têm sido desenvolvidas pelos líderes muçulmanos. Líderes religiosos cristãos e muçulmanos estão atuando dentro de uma plataforma criada em junho para evitar um conflito religioso no país.
Há um mês, o presidente Michel Djotodia anunciou a dissolução do grupo Séléka – coalizão rebelde que o levou ao poder em março. "Todos aqueles que continuarem fazendo parte dessas entidades serão tratados como bandidos", afirmou à imprensa local.
A dissolução do Séléka aconteceu três dias após a demissão do Chefe do Exército, e Djotodia alegou que a responsabilidade pela segurança cabe agora às forças oficias do Estado. Mas nenhum detalhe foi fornecido sobre como essas forças vão neutralizar os milhares de guerrilheiros do Séléka espalhados por todo o país.
No passado, o presidente Djotodia divulgou a introdução de medidas destinadas a coibir atos de violência do Séléka, mas sem resultados tangíveis. Ao invés disso, o número de rebeldes cresceu de 5.000 para 25.000 em apenas seis meses.
O grupo Séléka foi, repetidas vezes, acusado de atrocidades contra civis. De acordo com a imprensa local, o ataque que atingiu Bossangoa foi realizado por moradores exasperados por essa violência, que se armaram com a ajuda de ex-membros das forças armadas leais ao presidente deposto Francois Bozizé.
O presidente da Aliança Evangélica apelou à comunidade internacional para intervir e por um fim a esta "tragédia". "Muita conversa já aconteceu", disse ele. "Precisamos agir para aliviar o sofrimento da população da República Centro-Africana. Precisamos prosseguir com a proteção do país, e ajudar aqueles que estão se refugiando nas matas, fugindo da morte."
A ONG Human Rights Watch publicou um relatório no qual revela "abusos horríveis" cometidos pelos novos governantes do país entre março e junho deste ano. O relatório de 79 páginas denominado "Eu ainda posso sentir o cheiro dos mortos: A crise de esquecimento dos Direitos Humanos na República Centro-Africana", detalha a matança deliberada de civis – incluindo mulheres, crianças e idosos, e confirma a destruição de mais de mil casas, tanto na capital Bangui, como nas províncias.
"Os líderes do Séléka prometeram um novo começo para o povo da República Centro-Africana, mas ao invés disso realizaram ataques em larga escala contra civis, como saques e assassinatos", disse Daniel Bekele, diretor da Human Rights Watch na África. "O que é pior é que o Séléka recrutou crianças a partir dos 13 anos para realizar parte destes ataques", afirmou.
Pedidos de oração
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