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Comunhão no sofrimento

Nouhak* se inclinou para mim em voz baixa: "Você pode escutar muitas histórias e versões diferentes do que aconteceu em Laos, mas esse homem sabe mesmo a verdade. Ele a viu com seus próprios olhos".

Eu olhei para um jovem sentado em frente a mim. Seu rosto parecia disposto, agradável, mas havia luto naqueles olhos, um luto muito profundo para um homem no começo dos seus vinte anos.

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O pastor Soubanh já testemunhara mais sofrimento do que a maioria de nós em toda a vida. Em 1999, Khamtay, seu amigo chegado e companheiro cristão, foi detido por oficiais comunistas, por liderar uma igreja doméstica subterrânea. Khamtay foi arrastado à prisão - e Soubanh, que nunca foi de abandonar os amigos, foi logo visitá-lo.

À entrada da prisão, um guarda zombou dele: "Então você quer passar um tempo com seu amigo? Você é mais que bem-vindo!" Alguns minutos depois, Soubanh se encontrou algemado à suja parede de concreto de uma solitária, com suas pernas estendidas e presas em troncos. Por mais desconfortável que essa posição fosse, ele estava melhor que Khamtay - cujas mãos estavam esticadas em forma de cruz e cruelmente atadas à parede por quase duas semanas.

Soubanh foi mantido nos troncos, sem comida, por 17 dias. Como Khamtay, ele fazia suas necessidades onde estava sentado, incomodado por moscas e suando com o intenso calor da cela sem janelas.

Afinal, o enfraquecido pastor teve permissão para se juntar ao seu amigo em uma cela maior. Abraçando-se, eles choraram e louvaram a Deus juntos, um extraindo força da fé do outro. Khamtay foi solto dois anos depois; mas Soubanh serviu de testemunha de dois dos guardas da prisão, que o puniram adicionando mais seis meses à sua sentença.

Ambos voltaram direto às suas atividades cristãs assim que foram libertados, louvando com outros crentes e continuando a construir a igreja.

Oficiais comunistas fizeram uma visita a Khamtay em agosto de 2003. Os amigos de Khamtay o viram deixando a vila com esses oficiais; ele ficou desaparecido até que, alguns meses depois, seu corpo foi encontrado em uma cova rasa na selva. Seus pais não tinham recursos para recorrer à justiça, apesar de estarem certos de quem havia assassinado seu filho.

Nas semanas seguintes à morte de Khamtay, crentes de uma província próxima, no sul de Laos, começaram a aparecer na porta de Soubanh procurando abrigo, depois que oficiais iniciaram uma massiva opressão contra os cristãos.

Quando os comunistas tomaram Laos em 1975, fecharam todas as igrejas, despejaram os missionários e baniram a prática do cristianismo. Mesmo depois de suavizarem a sua postura, a Igreja Evangélica Laosiana, aprovada pelo governo, ainda operava sob estritos controles legais. Por essa razão, alguns cristãos cultuam em igrejas não-registradas - mas registradas ou não, são todos crentes genuínos.

Nos primeiros meses de 2004, os oficiais do sul começaram a convocar conjuntos de aldeões cristãos, ameaçando-os de morte caso eles se recusassem a abandonar sua fé. Esses simples crentes já foram ameaçados com a perda de plantações e gado; alguns de seus animais haviam sido envenenados, além de terem suas propriedades confiscadas. Agora eles se deparam com um desafio ainda maior. Para piorar a situação, os oficiais também os multaram pelo tempo "desperdiçado" em reuniões na vila!

Soubanh explicou que o governo mudou seus métodos. No começo, os cristãos eram forçados a assinar documentos, renunciando à sua fé. Aqueles que se negavam a assinar eram presos ou expulsos de suas terras. Algumas famílias fugiram e se refugiaram na selva por alguns meses até que, famintos e exaustos, não tiveram outra escolha senão se render.

Na seqüência de um clamor feito por grupos de direitos humanos, a estratégia se tornou mais sutil. O governo também não quis mais documentos escritos, que poderiam cair em mãos erradas. A autoridade foi colocada a cargo dos chefes das vilas e dos oficiais dos distritos, encarregados de reprimir a atividade cristã em sua respectiva área.

Soubanh disse que as igrejas mais novas foram o primeiro alvo: "O governo acredita que pode pressionar os recém-convertidos e que eles desistirão facilmente. (...) Às vezes eles estão certos".

Eu perguntei como os crentes em outras partes do mundo poderiam trabalhar em prol de uma maior liberdade religiosa em Laos. Soubanh acentuou que a oração é vital. A pressão internacional ajuda um pouco; por exemplo, as sentenças de prisão foram reduzidas nos últimos anos devido à intervenção de grupos de direitos humanos - mas apenas a oração pode mudar os corações dos governantes.

Algumas semanas antes de nos encontrarmos com Soubanh, ele havia dado abrigo, comida e um ouvido atento ao fluxo intenso de cristãos, que chegaram aflitos em sua casa. Por fim, quando ele não tinha mais dinheiro sobrando para alimentá-los e mais nenhum conselho para dar, Soubanh lhes dizia para voltar para casa. 

"O que eu deveria ter feito?", ele gritou de repente. "O que vocês teriam feito?".

Não tínhamos resposta. A sala ficou em silêncio - e então choramos. Todos nós choramos, Soubanh com sua cabeça enterrada em suas mãos e o restante de nós se entreolhava, pois sentíamos que a dor dele não poderia ser retirada.

Enquanto eu estava sentado ali, com lágrimas rolando pelo meu rosto, tive uma revelação. Soubanh e outros cristãos laosianos tinham um papel a cumprir, por mais duro que fosse. Nós - a igreja no ocidente - podíamos ajudar, carregando seu fardo com orações . Mas Jesus era o verdadeiro transportador; apenas Ele tinha ombros fortes o bastante para levar todas as nossas dores.

Naquela manhã eu entendi por um novo ângulo o fardo que a igreja perseguida leva sozinha. Assim que nos sentamos com Soubanh e oramos por ele, Deus nos mostrou uma realidade diferente: a das orações oferecidas pelos crentes em todo o mundo, os quais compartilhavam o pesar dos perseguidos e que não se esqueciam de seus irmãos e irmãs em Cristo.

Quando nos comprometemos em orar pela igreja perseguida, assumimos a figura do grande carregador de fardos, nos tornando como Cristo nesta comunhão no sofrimento.

Fonte: https://www.portasabertas.org.br/noticias/testemunhos/2005/10/noticia2107/


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