Rebecca é esposa do Rev. Samuel Dali, presidente da Igreja dos Irmãos, conhecida como Ekklesiyar Yan’uwa a Nigeria, ou EYN, e frequentada pela maioria das 276 meninas sequestradas pelo grupo radical islâmico Boko Haram, em abril de 2014. Leia o depoimento de Rebecca abaixo.
“No ano passado, comemorei meu aniversário com minha família e amigos. Meu esposo sussurrou: ‘Feliz aniversário, meu amor’. Ele me abraçou, deu-me um presente, segurou minha mão e orou por mim. Meus filhos me abraçaram e cantaram parabéns.
Muitas mulheres, crianças e idosos me visitaram. Encontrei-me com amigos e com a equipe do Centro de Cuidado, Capacitação e Iniciativas de Paz (sigla CCEPI, em inglês) para comemorar seu lançamento, em meu 50º aniversário, em 2010. Compartilhei com eles como comecei essa ONG, em 1989, para ajudar meninas a se tornarem autoconfiantes. Após um tempo juntos, desfrutamos de uma refeição e oramos.
Mas neste ano não há tempo para comemoração. Nossa alegria se tornou em tristeza porque estamos sem lar. Minha família foi dispersa para diferentes lugares. Meu marido está em Abuja, alguns de nossos filhos estão em Jos e outros em Kaduna, enquanto eu estou trabalhando para ajudar os desalojados do nordeste. Registramos mais de 140 mil pessoas desalojadas internamente somente em Mubi, Hong, Bombi, Gere, Yola Sul, Yola Norte e Numan”.
Nas últimas semanas, houve uma intensificação dos ataques do Boko Haram no nordeste da Nigéria. Cerca de 25 cidades e vilarejos estão sob controle islâmico nos estados de Borno, Admawa e Yobe, onde o governo declarou ‘estado de emergência’.
No discurso oficial do governo no 54º Dia da Independência do país, não houve qualquer menção do destino das meninas de Chibok, sequestradas há quase seis meses. Rebecca medita no dia: “Na ocasião, não coloquei meu pano verde. Eu costumo usar trajes verdes no meu aniversário [verde é a cor principal da bandeira da Nigéria]. Não posso ir para Michika, pois lá se tornou uma zona de morte. Talvez nossa casa e nosso escritório do CCEPI tenham sido saqueados ou incendiados com todo o material para ser distribuído às viúvas, cujos maridos foram mortos pelos insurgentes. Havíamos comprado máquinas de costura, de tricotar, alimentos, etc.
As lembranças do dia em que os militantes nos atacaram ainda estão frescas na minha mente. Era 7 de setembro, entre 9 e 10 horas da noite. As pessoas ficaram presas, algumas em suas igrejas, outras em seus lares e mais de 150 foram mortas. Não tivemos o consolo de sepultá-las. Até agora, os corpos de nossos entes queridos estão jogados nas ruas. Em Michika, as mulheres e crianças não foram poupadas. Uma amiga que conseguiu fugir da cidade me disse que os insurgentes forçaram outra amiga, Kwaki, a testemunhar a morte de seu marido e seu filho de 18 anos.
Assim como em Michika, em Gwoza e Madagali, eles continuam a semear morte e destruição. Na cidade de Madagali, as pessoas foram mortas e algumas sequestradas. Perdemos o pastor Ezra. Um líder da igreja, atacado enquanto realizava um sepultamento, contou-me como quase morreu. Eles atiraram para matar em muitas pessoas, incluindo a filha de 13 anos do falecido.
Ele se escondeu, mas viu o Boko Haram vandalizando sua propriedade. Caminhou mais de 80 quilômetros antes da alcançar um local seguro. Infelizmente, ele teve de deixar sua esposa e filhos no topo de uma montanha próxima.
Na região de Gwoza, eles sequestraram sete pessoas e no dia 30 de setembro, em Ngoshe, sequestraram 18 pessoas e mataram outras quatro.”
As histórias de pessoas que sofrem estão em toda a parte; nos estados de Borno, Yobe e Adamawa muitas pessoas foram mortas e um número desconhecido de propriedades destruídas.
A EYN, que é essencialmente baseada no nordeste da Nigéria, é a igreja mais afetada. Mais de 10 mil pessoas perderam suas vidas e cerca de cem igrejas foram incendiadas. Ore pela comunidade cristã na Nigéria.
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