Marte pode abrigar grandes reservatórios subterrâneos de água e dióxido de carbono, que no passado distante formavam a atmosfera do planeta, sugerem dados obtidos em pesquisas recente.
Stas Barabash e seus colegas no Instituto Sueco de Física Espacial estudaram a atmosfera de Marte com base em dados obtidos pela sonda orbital Mars Express, da Agência Espacial Européia (ESA). A equipe determinou que, da água e dióxido de carbono que um dia existiram no planeta, apenas uma pequena proporção deve ter sido perdida devido aos efeitos do vento solar, ao longo dos últimos 3,5 bilhões de anos. O vento solar é o fluxo de partículas portadoras de carga elétrica que se movem do Sol para os planetas do sistema em velocidade elevada.
Em relatório publicado pela revista Science, a equipe de Barabash sugere que reservatórios de água e dióxido de carbono podem portanto continuar existir na ou abaixo da superfície de Marte. Novas pesquisas sobre o subsolo e a atmosfera do planeta podem revelar informações importantes sobre o clima marciano, afirmam os cientistas.
“Sabendo mais (sobre o antigo clima do planeta), seria possível especular se as condições eram ou não propícias ao desenvolvimento de determinadas estruturas complexas (por exemplo materiais orgânicos)”, disse Barabash. “A questão, portanto, se relaciona diretamente ao problema da habitabilidade de Marte. A origem da vida, em minha opinião, é a mais importante questão que a ciência moderna precisa enfrentar”.
Marte era um planeta muito mais quente e úmido, no passado remoto, do que é hoje. Formações geológicas indicam que grandes quantidades de água em estado líquido um dia existiram no planeta, mas ninguém sabe o que foi feito delas. Há três teorias principais para explicar o enigma. Alguns cientistas sugerem que a água e o dióxido de carbono continuam a existir em grandes depósitos, em Marte, mas eles não foram localizados até agora ¿provavelmente porque se localizam a grande profundidade por sob a superfície do planeta.
Outras teorias propõem que alguma forma de impacto cósmico catastrófico removeu boa parte da atmosfera marciana em um episódio único. Um terceira sugestão é a de que o vento solar responde pela remoção da água e do dióxido de carbono que um dia existiram em Marte.
“Sou um físico especializado em plasma, de modo que realmente aprecio a última das hipóteses”, diz Barabash, professor de física espacial experimental. “Mas nosso mais recente estudo demonstra que o escape (de água e dióxido de carbono) por esse meio não é tão intenso quanto supúnhamos no passado, e isso representa um grande enigma”. Alguns cientistas acautelam que muito mais dados são necessários para interpretar a descoberta feita pela equipe de Barabash.
“Recentes mensurações conduzidas pela sonda Mars Express e pela Mars Global Surveyor sugerem que nós ainda não conseguimos nem mesmo descrever todos os processos de perda, até o momento”, diz Bruce Jakosky, do Laboratório de Física Atmosférica e Espacial da Universidade do Colorado. “Isso significa que ainda não somos capazes de determinar o ritmo total de perda atual, quanto mais extrapolá-lo e aplicá-lo ao passado remoto”.
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