Busca do voto em igrejas ficou mais intensa, dizem estudiosos
No maior colégio eleitoral do País, a corrida dos candidatos atrás do apoio de igrejas evangélicas é um dos fenômenos que mais chamam a atenção nas eleições municipais deste ano. O apoio religioso tem sido disputado palmo a palmo.
Na avaliação de especialistas, o fenômeno não é novo. A novidade está na exacerbação, no nível municipal, de um processo que já dura 25 anos na cena política nacional.
"O ingresso organizado dos pentecostais e neopentecostais na política ocorre na segunda metade da década de 1980, na Constituinte. Foi quando ficou evidente seu interesse pela política partidária, ávidos por recursos públicos, emissoras de rádio e TV, barganhas e alianças com candidatos, partidos e governantes", observa o sociólogo Ricardo Mariano, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. "Eles ajudaram José Sarney a estender seu mandato para cinco anos em troca de concessões na área de comunicação. Em seguida deram apoio maciço a Fernando Collor de Mello no segundo turno das eleições de 1989, contra a candidatura lulopetista. Eles demonizaram o Lula e o PT, dizendo que iria tolher a liberdade religiosa, fechar os templos evangélicos."
De lá para cá, segundo o estudioso, houve um constante processo de "instrumentalização recíproca", no qual as igrejas negociam apoio político em troca do atendimento de suas reivindicações, aumentando seu poder midiático e político a cada ano. Em 2010, a debandada de eleitores evangélicos da candidatura de Dilma Rousseff (PT), da qual se dizia ser favorável ao aborto, foi fator decisivo para levar a eleição para o segundo turno.
Crescimento
Paralelamente, verificou-se enorme trânsito de pessoas entre as religiões, com o crescimento do pentecostalismo. Em uma década, entre 2000 e 2010, o total de católicos caiu de 73,6% para 64,6% em relação à população, ao mesmo tempo que a participação pentecostal subiu de 15,4% para 22,2%.
"Eles já representam quase um quarto da população.
Na avaliação da socióloga Maria das Dores Campos Machado, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a busca do apoio de líderes evangélicos deve-se à influência que eles têm sobre os eleitores que vão aos seus templos. "A base social dessas igrejas é recrutada entre pessoas de baixo nível de escolaridade, que definem seu voto a partir do que ouvem nos círculos mais próximos", analisa.
Outro fator que é levado em consideração, segundo a socióloga, é o uso do templos para a apresentação dos candidatos aos eleitores. "Antigamente, especialmente nas pequenas cidades, a apresentação ocorria nos comícios. Hoje as igrejas constituem um espaço muito valorizado de concentração de pessoas. Elas se tornaram celeiros de votos."
O sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira, da área de Ciências da Religião da PUC de Minas Gerais, também atribui à decadência dos partidos o aumento da influência evangélica: "À medida que os partidos perdem identidade e se torna mais difícil distinguir as diferenças entre os candidatos, as igrejas acabam ocupando o lugar da legenda eleitoral. Nesse cenário, a indicação do vigário ou do pastor acaba tendo um peso maior."
Carismáticos
Não são apenas os evangélicos que atraem partidos e candidatos. O crescimento evangélico provocou uma reação católica, especialmente da ala conservadora carismática, que também investiu na chamada "instrumentalização recíproca" e conseguiu ampliar suas redes de rádio e TV.
"Uma vez que o Vaticano proíbe padres de se candidatarem, os carismáticos estimulam leigos a se lançarem na política", diz Mariano. "Em São Paulo, o bispo Fernando Figueiredo, ligado ao padre Marcelo Rossi, criou um curso de formação política."
Segundo Maria das Dores, os conservadores fazem o que a ala progressista da Igreja fazia décadas atrás, quando ajudou o PT a nascer e estimulou o voto em seus candidatos.
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