Empatado com a Indonésia e o Marrocos –países de maioria muçulmana–, o Brasil fica atrás apenas da Nigéria e da Guatemala, primeiro e segundo lugar, respectivamente. Um total de 21 mil jovens entre 18 a 29 anos participaram da pesquisa alemã.
Em âmbito global, mais de quatro entre cada cinco jovens (85%) são religiosos, e quase metade (44%) são profundamente religiosos.
Apenas 13% não acreditam em deus ou não têm religião, de acordo com a sondagem.
No Brasil, 65% dos jovens se declaram profundamente religiosos, 30% se dizem religiosos e 4% afirmam não ter religião. Apesar de 74% dos brasileiros declararem que rezam diariamente, somente 35% disseram viver de acordo com os preceitos religiosos.
Veja gráfico sobre hábito de rezar entre jovens e gráfico sobre conduta religiosa.
Plano intelectual
“A pesquisa mostra que só um terço dos jovens (brasileiros) se dizem convencidos de que devem seguir os mandamentos de sua religião, ou que estão dispostos a obedecer os mandamentos religiosos”, afirmou o sociólogo Flávio Pierucci à Folha Online.
“Primeiramente, é um traço muito moderno da juventude brasileira, que mostra ser mais moderna do que parece”, disse ele, professor titular de sociologia da FFLCH (Ciências Sociais) da USP.
“A tendência é reduzir a religião a uma coleção de crenças”, afirma Pierucci. Para o professor, quando se reduz a religião “a uma simples adesão intelectual, começa-se a fazer misturas (de religiões)”.
“Não significa, necessariamente, que se está sendo orientado por aquelas idéias religiosas”, explica Pierucci. “A vida pode ser orientada por outras coisas, por uma relação mais pragmática com a realidade –mesmo na vida em família, há muito mais um processo de negociação do que se deve fazer do que uma postura de abaixar a cabeça e dizer, 'deus mandou eu fazer assim, vou fazer assim'.”
Sobre o número de não-religiosos, o sociólogo afirma que o grupo é uma parcela crescente da população. “O censo de 2000 apontava que 7,3% da população brasileira se declaravam sem religião, o que já representou um crescimento bastante grande em relação ao censo de 1991, que apontava pouco mais de 2%.”
“Mercado religioso”
No entanto, ele afirma que se declarar sem religião não significa necessariamente que a pessoa não tem fé. “Pode ser que, em outro momento do questionário, ao ser questionada se acredita em Deus, ela irá dizer que acredita”, explica ele. “A tendência é as pessoas não terem mais problema em dizer que não têm religião, embora acreditem em Deus e cheguem a rezar nos momentos de fraqueza, perigo ou desamparo.”
Mais de 90% dos brasileiros dizem acreditar em Deus e em vida após a morte, de acordo com o estudo alemão.
Quanto ao esforço da Igreja Católica para arregimentar novos seminaristas, apesar da alta religiosidade no mundo, Pierucci afirma que o fato se deve à “diversidade religiosa atual”. Segundo o sociólogo, com a liberdade religiosa, incrementa-se o que a sociologia chama de “mercado concorrencial religioso”.
“Cada vez aparecem novas religiões ou modificações das já existentes, que vão proliferando. Cria-se, então, um ambiente muito cheio de oferta religiosa”, diz ele. “Um jovem acha na internet qualquer coisa –ele pode entrar em um site islâmico, pode ter curiosidade sobre a cientologia, a religião do ator Tom Cruise, ele pode se informar sobre uma seita como o Santo Daime. A religião fica mais viva”, afirma. “Em vez de a crença morrer, ela se multiplica de diferentes formas. As maiorias religiosas vão sendo predadas”, analisa.
Contradições
Para Pierucci, a religião representa, nas vidas das pessoas, uma “pequena oração diária, no máximo, um ou dois minutos”.
“Então você tem uma situação aparentemente contraditória –uma população muito religiosa, como a brasileira, que gosta de religião e a respeita, a pesquisa mostra bem isso”, afirma o sociólogo. “A sociedade brasileira valoriza a religião, mas não segue nenhuma, porque elas costumam ser muito exigentes. Há apenas uma minoria que segue, o resto não tem nem tempo para isso.”
No ranking criado pelo instituto alemão, a Rússia aparece como o país onde os jovens são os menos religiosos. Segundo o levantamento, apenas em Israel a juventude é mais religiosa que a população adulta.
De acordo com Matthias Jäger, responsável pelo projeto “O Papel da Religião na Sociedade Moderna”, do instituto alemão, a pesquisa “desfaz a noção de que decrescentes níveis de religiosidade são inversamente proporcionais ao progresso econômico, social e cultural”.
Para o pesquisador, a principal conclusão da pesquisa é a de que “a religião desempenha um papel muito mais importante internacionalmente do que geralmente se assume de uma perspectiva ocidental e européia”.
“A Europa é a exceção à regra”, afirmou o pesquisador, por e-mail.
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