O assassinato do padre Eusebio Ferrao, no Estado de Goa, na manhã de 18 de março, deixou chocada a comunidade católica da Índia.
O padre Eusebio, 61, era o sacerdote da paróquia de São Francisco Xavier, em Macazna, uma vila da costa oeste do Estado. A polícia disse que os bandidos espancaram o velho padre antes de estrangulá-lo.
O corpo do padre Eusebio foi descoberto por volta das 6h30, quando os fiéis chegaram para a missa da manhã.
A polícia disse que os suspeitos do assassinato são dois jovens do Estado de Uttar Pradesh, identificados apenas como Amit e Manish, com idades entre 25 e 30 anos, que compartilharam da mesma refeição que o padre Eusebio na noite que antecedeu sua morte.
A polícia descartou a hipótese de roubo como o motivo do crime, já que nada foi levado da igreja.
Enquanto a polícia permanece desnorteada, os cristãos acreditam que o padre Eusebio tenha se tornado um alvo por causa dos recentes comentários que fez publicamente a respeito dos conflitos religiosos no sul do Estado.
Conflitos em Goa
O padre Eusébio escrevia regularmente para para dois jornais locais, "Roti" ("Pão") e "Vauradeacho Ixt" ("O Amigo do Trabalhador"). No início de março, ele expressou sua preocupação com os conflitos entre hindus e muçulmanos em Sanvordem, sul de Goa.
Durante os tumultos do dia 2 de março, multidões feriram gravemente dois policiais e dois civis, saquearam 18 lojas e um posto de gasolina e danificaram 24 veículos de propriedade de muçulmanos.
O arcebispo de Goa, Filipe Neri Ferrao, acredita que os conflitos foram deliberadamente arranjados para inflamar uma situação já tensa entre hindus e muçulmanos na região, segundo reportagem da mídia local.
Enquanto o ministro chefe de Goa, Prapsingh Rane, acusava os extremistas hindus em geral pela violência, os muçulmanos responsabilizaram o grupo extremista Rashtriya Swayamesevak Sangh (RSS), acusando-o de estar na ofensiva, lutando por um Estado totalmente indiano.
"Depois dos conflitos, eu exigi uma investigação completa, mas o governo não teve tempo de executar a tarefa", disse ao Compass o membro do parlamento representante do sul de Goa, Churchill Alemao. "Agora, com esse horrível assassinato, espero que as autoridades acordem".
Sinais perigosos
Os extremistas hindus estiveram bastante ativos em Goa durante todo o ano passado.
Desde fevereiro de 2005, os extremistas protagonizaram roubos a joalherias e atos de vandalismo contra igrejas. Apesar dos repetidos apelos à polícia e às autoridades estaduais, ninguém foi preso.
Dois incidentes na semana passada levaram alguns cristãos a acreditar que estavam sendo prevenidos do assassinato. No dia 16 de março, uma cruz da igreja foi destruída e, em um parque da redondeza, uma batina foi pendurada em uma árvore e enrolada em uma tela - talvez sinalizando que algo mais sério estava para acontecer.
Anteriormente, em 30 de janeiro, uma cruz foi vandalizada no norte de Goa, com as palavras "Shri Pardesi" (Sr. Estrangeiro) escritas nos pedaços quebrados - indicando que os vândalos viam o cristianismo como uma religião indesejada e estrangeira.
"As estratégias para provocar a violência em Goa começaram durante o governo do BJP (Bharatiya Janata Party)", disse John Dayal, presidente da União Católica Toda Índia e membro do Conselho de Integração Nacional. "Há uma grande conspiração em andamento aqui".
John Dayal solicitou ao ministro chefe Prapsingh Rane que investigue o crime.
O reverendo Babu Joseph, porta-voz da Conferência Nacional dos Bispos, disse que as várias profanações dos símbolos religiosos cristãos em Goa nas últimas semanas apontam para uma nova tentativa dos extremistas hindus de criarem tensão entre os grupos religiosos.
O padre Cedric Prakash, diretor do Centro para Direitos Humanos, Justiça e Paz em Ahmedabad, disse que o RSS estava visando Kerala, Goa e o nordeste da Índia por causa do número relativamente alto de cristãos nesses locais.
Haverá eleições no próximo ano em Goa e os extremistas hindus talvez estejam provocando tensões na comunidade na tentativa de conquistar votos, disse ele.
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