Os rituais realizados por igrejas neopentecostais no Brasil a pretexto de reproduzir narrativas bíblicas estão causando polêmica e atraindo a atenção da mídia cristã internacional.
O “ato profético” da Igreja Apostólica da Plenitude do Trono de Deus em que o apóstolo Agenor Duque “ungiu” 50 Kg de sal e espalhou o condimento no templo para que os fiéis participassem do rito foi destaque no portal em língua espanhola Acontecer Cristiano.
A ideia do ritual era que se recriasse a narrativa de 2 Samuel 8:13, quando o rei Davi enfrentou 18 mil soldados no Vale do Sal. Fiéis, obreiros e pastores auxiliares caminharam ajoelhados por cima do sal, e ao término do “ritual sagrado”, os frequentadores da igreja jogavam sal em seus corpos, como se preparassem para uma guerra. A foto do momento em que o apóstolo ora pelo sal mostra os fiéis da denominação à espera do final do ritual para que possam ser “ungidas” através do condimento.
Controvérsias
O portal Acontecer Cristiano diz que os cristãos devem “permanecer alerta para as novas tendências que promovem ‘estranhos rituais’ e costumes que estão longe do cristianismo bíblico”.
As igrejas neopentecostais são conhecidas pelo sincretismo religioso em suas celebrações, trazendo elementos ritualísticos de outras religiões – em sua maioria emprestados do judaísmo – e são alvo de muitas críticas justamente por adicionarem “ingredientes” no Evangelho descrito na Bíblia Sagrada.
Dentre líderes e teólogos das igrejas evangélicas tradicionais e históricas, tais práticas são consideradas uma aproximação destas denominações ao catolicismo, e teriam nos artefatos e “unções especiais” os elementos que ritualísticos semelhantes aos da igreja sediada em Roma.
Numa entrevista concedida ano passado, os pastores e músicos da banda Resgate (ex-bispos primazes da Igreja Renascer em Cristo, uma das principais denominações neopentecostais do Brasil), classificaram o uso de elementos ritualísticos como “badulaques”.
“O Evangelho de Jesus Cristo era contracultura. E a gente criou uma cultura para se alimentar dela, e nem a nossa cultura brasileira a gente usa. Então a gente é muito tapado, hoje […] Era assim no começo: todo mundo tinha que vir pra Israel. Jesus Cristo veio e disse assim: ‘agora a Igreja vai para todo o mundo’. E a gente voltou pra dentro… A gente virou Israel de novo. A gente virou Israel de novo! […] Porque a gente só pensa na gente, no nosso umbigo, nas nossas coisas […] Jesus Cristo foi lá contra os religiosos… comia com as prostitutas, sentava lá com o publicano… Tava no meio dos pecadores. A gente se voltou para uma Igreja que se volta pra si. Virou uma Igreja judaizante, que só pensa nela. Ela é o umbigo do mundo”, disse o pastor Marcelo Amorim.
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