Na Nigéria, Eritreia, Etiópia e Egito, os migrantes e refugiados cristãos são particularmente visados, de acordo com o relatório da Anistia. Eles estão sujeitos a sequestro, tortura, roubos e agressões físicas por gangues e traficantes de pessoas, além de abusos cometidos por grupos extremistas como o autoproclamado Estado Islâmico e Ansar al-Sharia.
Um homem nigeriano de 30 anos, a quem a Anistia Internacional identificou como Charles, contou como foi raptado e agredido fisicamente inúmeras vezes por membros de uma gangue criminosa na cidade costeira de Zuwara: "Às vezes, homens jovens vinham armados até a nossa casa para roubar o nosso dinheiro. Como sou negro, eu não podia ir até a polícia dar queixa. Eu fui à delegacia duas vezes, mas eles não acreditaram em mim."
Em julho do ano passado, Charles mudou-se de Trípoli para Zuwara em busca de segurança dos bombardeios e combates entre grupos armados em áreas residenciais da capital. Em vez disso, ele disse que sofreu abusos e perseguição.
"Eu sou um cristão e é por isso que os homens sempre até a casa, onde moravam mais três cristãos nigerianos, e nos atacam. Até mesmo nas ruas, homens armados poderiam me perguntar se eu era cristão."
Outro nigeriano que também fugiu para Trípoli, mas a Anistia Internacional não identificou, falou sobre o assédio de motivações religiosa e racial que ele enfrentou em Zuwara: "A Líbia é cheia de crueldades. Não é hospitaleira para com os estrangeiros, especialmente com homens negros. Eles nos veem como escravos. A Líbia é um país para onde os cristãos não devem vir. Em um emprego, qualquer chefe líbio irá perguntar se você é muçulmano ou cristão. Se você disser que é cristão, então você estará em apuros. Ele não vai pagar seu salário e, se você reclamar, irá sofrer agressão física."
O caos e a anarquia são as causas do aumento da xenofobia, de acordo com o relatório. Desde a queda de Muammar Kaddafi em 2011, a Líbia está afundada em conflitos de grupos armados.
O surgimento de grupos armados, fiéis ao grupo extremista autoproclamado Estado Islâmico, agravou ainda mais os riscos enfrentados pelas minorias religiosas na Líbia. Vídeos recentes que mostram as execuções de pelo menos 28 cristãos etíopes pelo Estado Islâmico chamou a atenção do mundo para alguns dos abusos e violações dos direitos humanos, seguidos de completa impunidade, disse o relatório.
Esses abusos estão empurrando centenas de milhares de migrantes e refugiados para arriscar suas vidas tentando cruzar o Mar Mediterrâneo para a Europa. Mais de 1.700 pessoas morreram até agora, somente neste ano, disse a Anistia Internacional, que também pediu por mais proteção.
Segundo o relatório, quanto mais as pessoas estão se afogando no Mar Mediterrâneo, mais a prioridade da comunidade internacional deve ser de expandir as operações de busca e salvamento e tomar medidas eficazes e urgentes para resolver os abusos e violações graves dos direitos humanos na Líbia.
A Anistia é chamada também na Tunísia, Egito e Argélia para que esses países mantenham abertas suas fronteiras para qualquer pessoa que necessite de proteção internacional, independentemente se têm documentos de viagem ou exigências de visto válidos.
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