Rick Warren aceita o convite de viajar até a Coréia do Norte. Pyongyang lança mísseis numa outra tentativa de ameaçar os Estados Unidos e outros países para estabelecer seu próprio governo. Pode ser difícil de entender os motivos dessa nação secreta, quer seja lançando mísseis no oceano ou convidando líderes cristãos a visitar um país perseguidor de cristãos. Ronald Boyd-MacMillan, parceiro da Portas Abertas, esteve na Coréia do Norte em três ocasiões e se encontrou com Kim Jung I, líder do país. Rob Moll, da agência de notícias Christian Post, conversou com Ronald em sua casa na Escócia.
O que você acha da visita de Rick Warren à Coréia do Norte?
Existe a possibilidade de viajar como personalidade religiosa, mas é propaganda. Eu viajei como personalidade religiosa, e me levaram até a Federação Cristã Coreana, também conhecida como Igreja Cristã em Pyongyang. Mas isso é só uma fachada para os estrangeiros.
Mais tarde, um amigo meu, que não era cristão, foi para lá. Eu disse para ele passear pela cidade no domingo de Páscoa, para averiguar se havia mesmo uma igreja de verdade. O local estava trancado.
De fato, existe a Federação Cristã Coreana, mas não passa de um prédio para atrair religiosos para que eles sejam uma ponte entre o regime e o mundo de fora, pois os canais diplomáticos são muito difíceis de serem utilizados. Billy Graham fez isso por muito tempo. Pode haver uma regra para isso. Tenho certeza que Rick Warren está consciente de que não passa de propaganda para o governo norte-coreano mostrar que eles também possuem uma igreja livre, o que não faz o menor sentido.
Existe alguma chance de que eles possam utilizar isso para atrair alguns cristãos?
Não, eles seriam muito espertos. Rick Warren nunca encontra uma igreja de verdade se for a Pyongyang.
O que você tem a dizer desses lançamentos de mísseis? O que eles estão tentando fazer?
É a única forma de eles se relacionarem com o mundo de fora, já que não têm mais nada a oferecer, além disso. A única coisa é manter a aparência de perigosos. Os Estados Unidos e alguns outros países, em específico a China, têm participado desse jogo com eles, com certos parâmetros. Provavelmente eles acham que, se mantiverem um regime estável, os norte-coreanos nunca lançarão armas nucleares contra o Japão ou na Coréia do Sul.
Você teve a oportunidade de encontrar com cristãos norte-coreanos?
Não. Se você for a algum lugar como a capital, você é mantido longe de qualquer cidadão local, e não há cristãos conhecidos lá. A única maneira de conhecer cristãos é, talvez, atravessando a fronteira em direção ao norte e visitar algumas igrejas domésticas, o que é bastante arriscado para um estrangeiro.
É verdade que, antes do comunismo, havia muitos cristãos?
É verdade. Eles chamavam Pyongyang de Jerusalém do Extremo Oriente. Ruth Graham foi criada em uma pequena escola cristã, muito conhecida por lá. Kim Il Sung mudou todo o cenário na década de 40, obrigando a população a adora-lo, logo depois da Guerra da Coréia na década seguinte.
Ele conseguiu varrer quase toda a presença cristã?
Sim. Eu diria que foi uma das maiores 'limpezas' que já aconteceu no século XX. Eu lembro de ter encontrado uma refugiada da Coréia do Norte há poucos anos, e ela comentou de como ela viu sua mãe pegando um pequeno livro, colocando-o dentro de uma agulha de tricô e enfiando no fundo do sofá em sua casa. A garota foi à escola no dia seguinte, e os professores fizeram um jogo onde eles diziam "seus pais possuem qualquer livro que eles leiam talvez em secreto? Vamos fazer um jogo: traga o livro e nós iremos dar uma espiada". É claro que ela entregou o livro, que era um Novo Testamento. Quando ela deixou a escola naquele dia, ela se deparou com dois homens que disseram: "você nunca mais verá seus pais novamente". E foi o que aconteceu. Foram levados aos campos de trabalho forçado. Ela foi encaminhada à outra família.
Se você for à Coréia do Norte, receberá educação em uma linguagem como a da Bíblia. Ela é mesmo bíblica, exceto pelo fato de o deus ser Kim Il Sung. A sociedade norte-coreana é muito religiosa.
Na verdade é daí que vem a esperança, pois lá poderia acontecer o mesmo que na China. Mao estabeleceu uma religião, o culto da personalidade e, quando ele morreu, toda a população disse "afinal, quem é o verdadeiro Deus?".
Você disse que ainda existem ainda algumas igrejas domésticas. Isso é tudo?
A principal informação que temos vem dos poucos idosos que estão autorizados a atravessar a fronteira em determinadas épocas do ano, com algumas informações. E ainda existem alguns refugiados. Essas são nossas duas principais fontes de informação. Sabemos que ainda existem algumas igrejas domésticas no norte do país que são organizadas em linhas familiares. Ou seja, eles possuem pais, avós e só. Eles mantêm as crianças de longe, devido às brincadeiras na escola como mencionei antes.
Se você se torna um cristão na Coréia do Norte, a primeira pergunta que vem é: fujo ou fico? Ficar é sinônimo de risco de morte. Você tem que ir aos festivais, saudar Kim Il Sung, fazer oferendas às estátuas de Kim. Você se vê amarrado pelo sistema. Mas, ao mesmo tempo você não pode passar a impressão de que seu coração não está no sistema.
Se você foge, o risco de morte é muito grande, pois se for pego, ou será morto a tiros ou levado à um campo de trabalho escravo. Decidindo ficar, a grande questão é: como esconder minha fé dos que eu amo? Como esconder minha fé da minha esposa? Como esconder da minha mãe? Dos meus filhos? Pois, se for pego, eles também serão presos juntos. São dilemas horríveis para os que se tornam cristãos.
Como alguém de fato se tornaria cristão na Coréia do Norte? Existe alguma maneira de eles ouvirem a respeito de Jesus?
Bem, existem alguns testemunhos que vão das unidades familiares. E obviamente existe um eixo que vem antes da guerra e que, de alguma forma, tem mantido seu testemunho no país, mas são silenciosos.
A melhor estimativa que eu ouvi é de aproximadamente cinco mil cristãos. Mas, ao mesmo tempo, há estimativas de meio milhão. Não há como provar. Sabemos disso, pois existem alguns na cadeia dos quais ouvimos falar.
Alguns cidadãos que conseguiram escapar do campo de trabalho nos disseram das condições. Não sabemos de nenhum cristão que escapou, isso ainda não aconteceu, mas existe uma mulher que escapou de um campo. Ela não era cristã naquela ocasião, mas veio a se tornar uma posteriormente. Ela nos relatou o tipo de vida dos cristãos lá dentro. Eles recebem os piores tipos de trabalho. E, no caso deles, têm que sobrevivem comento ratos, já que as porções de comida não são suficientes. Trabalham da seis da manhã até as nove da noite. E são proibidos de olharem para o céu. Esse é um dos castigos. Não devem olhar para Deus; devem ficar com os olhos para baixo o tempo todo.
Os sul-coreanos têm condições de fazer qualquer tipo de ministério no Norte através de campanha de alimento ou qualquer outra coisa?
Existem alguns, mas a maioria das ONGs cristãs se retirou, pois não conseguia ver a ajuda chegando aos que precisavam. O governo pegava o arroz que vinha das organizações não-governamentais e passava para o exército, deixando a população com fome.
Quais são alguns dos desafios na tentativa de ajudar a Igreja Perseguida em lugares como a Coréia do Norte?
É muito importante traçar um perfil de sofrimento extremo. É preciso soltar a pessoa que está presa ou é espancada pela polícia. Mas isso não é tudo, e nossa responsabilidade é ajudar toda a Igreja Perseguida. E, se nos concentrarmos somente nas situações extremas, iremos perder o fortalecimento da maioria da comunidade cristã que sofre perseguição.
Eu quero que os cristãos tentem ver o cenário por completo, pois é assustador. Não se trata em saber como eles sobrevivem na prisão, nos espancamentos ou nos martírios. Trata-se de como Deus constrói seu Reino através dessas forças perseguidas, mesmo por meio de pessoas como Mao Tse Tung. Deus dobra o mau à sua vontade. Todo mundo constrói o Reino independente de conhece-lo ou não.
Algumas das mais eficazes construções do Reino ocorre pelas pessoas que pensam que são destruidoras. Essa é a grande imagem que quero que as pessoas tenham. No fim das contas, ela te ligará à história toda dos perseguidos e você não se baseará somente nos casos extremos de perseguição.
Deveríamos nos perguntar: 'O que a Igreja Perseguida tem a nos ensinar?' 'O que Deus tem feito que precisamos escutar pois fazemos parte do corpo?'. Ainda, onde quer que você esteja, você deve passar por algum tipo de perseguição, pois, trata-se de um fenômeno espiritual, e não legal. Se olharmos para o debate dos direitos humanos, é um fenômeno legal, pois tudo é elaborado pelos advogados. Mas, a perseguição é espiritual e o entendimento bíblico disso é que, quando você passa a ser cristão, os inimigos de Cristo se tornam seus inimigos. Você sofrerá algumas das conseqüências por isso. Sendo assim, existe uma estrada dolorosa a ser seguida, mas também é uma estrada gratificante. Esqueça isso e, paradoxalmente, você esquece uma das grandes fontes de alegria da vida cristã.
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