O XI Congresso de Medicina e Espiritualidade (Mednesp), que será realizado entre os dias 14 e 17 de junho, no Riocentro, trará uma pesquisa feita pelo psiquiatra Mario Peres, do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (ProSER) da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com o pesquisador, 44% dos pesquisados de sua amostragem seguem mais de uma religião.
Desta forma, parte da população brasileira possivelmente mistura elementos de várias religiões. O fenômeno é conhecido como sincretismo. De acordo com reportagem do jornal O Globo, um dos casos é a funcionária pública Anelise Roque, que possui elementos católicos e hindus em sua casa.
“Deixei de ser católica quando parou de fazer sentido para mim. Hoje, minha fé assimila elementos de várias religiões e figuras inspiradoras que não necessariamente têm a ver com religião. Eu me considero espiritualizada: acredito em Deus, oráculo, signo, no sagrado feminino”, disse a funcionária, que possui imagens de Maria Bonita e Frida Kahlo.
Anelise acredita que o fenômeno é caracterização das gerações mais recentes. “Enquanto minha mãe e minha vó são muito católicas, por exemplo, conheço várias pessoas da minha idade que creem a seu próprio modo”, afirmou.
A pesquisa de Mario Peres revelou outros dados curiosos. 53% dos entrevistados acreditam em extraterrestres; 70% dizem já ter tido alguma intuição na vida e a astrologia, considerada no circuito científico como uma pseudociência, é encarada como uma forma válida de crença para 42% das pessoas.
O sociólogo Clemir Fernandes, do Instituto de Estudos da Religião (Iser), destacou que, apesar do antagonismo, é intrínseco da cultura brasileira a mistura de elementos religiosos. “Muitos católicos e evangélicos assimilam práticas de culturas africanas e do espiritismo, mesmo que não se considerem seguidores dessas culturas. Conheço um pastor protestante que é também uma espécie de ogã do candomblé”.
Mario ainda disse sobre os efeitos benéficos de crenças validados no meio científico. “É muito importante levar em conta a dimensão espiritual do paciente em qualquer tratamento. Sabemos, por meio de estudos científicos, que as pessoas superam melhor a depressão e a ansiedade, por exemplo, quando têm um lado religioso”.
Ele, no entanto, destaca que o vínculo institucional nem sempre é fator determinante. “E não falamos aqui apenas de filiação religiosa. Esse efeito protetor pode ocorrer mesmo que a pessoa não tenha uma religião ou que tenha múltiplas religiões. O que faz a diferença é ela acreditar em algo e usar essa fé em prol do seu tratamento”, conclui.
O fisiatra Luiz Felipe Guimarães afirmou que pessoas religiosas tendem a lidar melhor em situações de problemas de saúde. “Cada pessoa é o que é a partir de sua cabeça, e não do seu corpo. Quando a mente está tranquila, equilibrada, o corpo reage melhor. Além disso, a doença conecta as pessoas. Então é principalmente na hora da doença que elas buscam acreditar em algo e são capazes de combinar diferentes crenças em harmonia”.
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