O presente livro demonstra com alta competência e uma percepção perspicaz, às vezes, mordaz, sem perder a elegância, a rica herança e o pobre uso dela por parte de considerável segmento evangélico no Brasil. O retorno ad fontes adotado pelo autor, que tanto influenciou os reformadores do século XVI, na verdade não é uma simples volta, mas a ida ao poço para beber sua refrescante água que permite enfrentar e moldar o futuro.
Neste intuito, Ronaldo é pioneiro de uma teologia que aponta para o futuro, se alimentando do passado. Ficar quieto é acomodar-se ou aliar-se ao poder; hoje estas duas posturas existem: "Crente não se mete em política!" A atuação de Jesus se dera de forma pública, no espaço público, conforme existia na época e incluía uma franqueza não apenas honesta, mas dolorida, pois sempre foi direto ao centro. No entanto, enquanto Jesus era franco, direto e desafiador, também foi humilde.
Parece-me que o exemplo de Jesus, nesta dupla face de ousadia e humildade, pode servir como paradigma para a atuação de uma igreja no espaço público hoje. E, ao enfocar a Reforma, Ronaldo nos ajuda na busca de caminhos pelos quais as igrejas evangélicas, neste país, nomeadamente as históricas, poderiam ser sal e luz na cidade, em vez de enclausurar-se no gueto.
É contagiante esta combinação que transparece neste presente livro e que devolve com direito ao teólogo evangélico, o orgulho por sua tradição. Que este Evangelho, que move e comove o autor e inúmeras outras pessoas, seja ouvido mediante a leitura deste instigante livro, e instigue para uma contribuição protestante a uma teologia pública, evangélica e contemporânea.
Rudolf von Sinner