O último painel temático da 6ª Conferência de Mídia, Religião e Cultura, realizado hoje, último dia do evento, tratou das mídias populares e a democratização da informação. Cada pesquisador trouxe à discussão um enfoque diferente, ressaltando a importância desses meios de comunicação para o fortalecimento da identidade cultural e da construção da cidadania.
A professora Lúcia Castellon, da Universidade Mayor de Santiago do Chile, apresentou um panorama de como os meios de comunicação cresceram na região. “O país possui dois grandes grupos de comunicação e ainda existem setores rurais que não conhecem a telefonia”. De acordo com Castellon, as rádios comunitárias e os meios alternativos se tornaram imprescindíveis nesse quadro.
Em 1990, existiam no Chile mais de 300 emissoras de rádio dirigidas por igrejas, comunidades, instituições de ensino, municípios e sociedade civil. Atualmente, tramita um projeto de lei para criar estatuto jurídico específico, com o intuito de superar as dificuldades que as rádios enfrentam.
Como experiências de democratização dos meios de comunicação no Chile, a professora mencionou sites como El Morrocotudo, que conta com quatro jornalistas e 550 colaboradores; a Rádio 1º de maio, que tem como linha editorial a liberdade, a solidariedade e os direitos humanos, além das rádios religiosas, como a Rede Maria, que atinge todo o país, e as rádios educativas. “Hoje há 423 concessões para emissoras comunitárias, sendo 50% de grupos religiosos”, disse.
Folkcomunicação na Indonésia foi o tema apresentado pelo professor Agust Alfons Duka, de Jacarta. Ele tratou das narrativas como forma de comunicação utilizadas pela Igreja Católica nas escolas.
Duka explicou que a Indonésia apresenta grande diversidade étnica e cultural. “O país é um arquipélago com 17.502 ilhas, seis mil delas habitadas, com 240 milhões de pessoas que falam 300 dialetos. A religiosidade também é diversa”, ressaltou.
A oralidade, disse, é o meio de comunicação mais tradicional e mais utilizado pelos indonésios, daí a utilização da Igreja Católica para o ensino religioso. “Provérbios, lendas, mitos e até anedotas são muito utilizados pelo povo, por isso esses são os melhores meios de comunicação cultural daquele povo”.
As manifestações comunicacionais populares (Folkmídia) também foram tema da apresentação desta manhã pelo professor José Marques de Melo, diretor da Cátedra UNESCO/Metodista de Comunicação. Ele falou da Folkmídia, religiosidade e cultura popular à luz de dois grandes pensadores da comunicação: Marshall McLuhan e Luiz Beltrão.
“Embora eles tenham pensamentos distintos, os dois prenunciaram a influência da cultura sobre a mídia, em suas diferentes realidades”, apontou Marques de Melo. Enquanto Marshall dizia como a comunicação de massa norte-americana se apropriava da cultura popular, construindo assim a indústria midiática nos EUA, Luiz Beltrão adiantava que a situação no Brasil era diametralmente inversa.
Já em 1936, Beltrão diagnosticava a mídia como elitista, ancorada nos valores da cultura erudita e com seus códigos não-assimilados pelas camadas populares. Cinqüenta anos depois, explicou o professor, a mídia brasileira passou a se preocupar com as massas populares, já que estas estão incorporadas à sociedade do consumo.
Quanto à religiosidade, disse Melo, as sociedades também se contrapõem. De um lado, a norte-americana exclui a religiosidade e a brasileira carrega expressões espirituais bem fortes. “Através dos ex-votos (objetos que expressam um graça alcançada), das prosas, cantorias e até folhinhas (calendários), a comunicação popular se constrói”, disse. “A Folkmídia ainda é um terreno inexplorado que espero que suscite interesse para o estudo das novas gerações”, completou.
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